In Memorium
Percurso

Memorial

JOÃO ANTÓNIO SILVEIRA (VINAGRE)
Idanha-a-Nova 9Dez1919 - Almada 7Dez1971

João António da Silveira, que viria a ser conhecido por João António da Silveira Vinagre, nasceu em Idanha-a-Nova, a 9 de Dezembro de 1919, filho de Frederico Silveira, comerciante, proprietário de um Talho, e de Antónia da Conceição Vinagre.

Graças ao seu espírito arrojado, com apenas 14 anos de idade, em 1933, abriu por conta própria a Barbearia Mimosa, onde se veio a tornar o 1º Cabeleireiro de Senhoras da Idanha.

Casou com Maria Vitória Moreira Forte, filha dos Comerciantes Jaime Moreira, Sapateiro e Músico, e de Conceição de Jesus Forte, proprietária de uma Taberna, tendo tido 3 filhos: Raul Forte da Silveira, Maria Gracinda Forte da Silveira Pinto da Silva e, João Carlos Forte Silveira.

Para além de Mestre Barbeiro, devido ao seu gosto pela música e, dotado de um dom especial que lhe permitia tocar qualquer instrumento músical, dedicou toda a sua vida a criar, apoiar e promover grupos músicais, corais e até de teatro, que lhe permitiam divulgar os bens etnofolclóricos da sua amada Idanha.

Fez parte da Direcção do CUI - Clube União Idanhense, da Direcção da Banda Filarmónica da Idanha, onde o seu Sogro Jaime Moreira foi Maestro, criou os Coros Infantis das Escolas da Idanha, foi o Agente da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses para o Concelho da Idanha e, foi o principal organizador, impulsionador e ensaiador do Rancho Folclórico de Idanha-a-Nova, que na sua 1ª saída a Lisboa, ao Concurso Nacional de Ranchos Folclóricos, em 1969, no Coliseu dos Recreios, teve logo um lugar de destaque, tendo alcançado a sua 1ª Taça.

O seu amor à sua Idanha ficou patenteado também também na sua colaboração na manutenção das tradições idanhenses, pois foi mais de uma vez festeiro das festas em honra do Divino Espírito Santo.

Não havia actividade cultural onde não estivesse envolvido na região, e até fora dela. Por onde passou, especialmente Covilhã e Covas, em Terras de Bouro, deixou as suas raízes e influências, tendo-se envolvido em todo o género de grupos culturais.

Em 1950 trocou a sua Barbearia pelo trabalho nas Finanças, nas Contribuições e Impostos, que o levou primeiro para terras da Covilhã e, depois, para Terras de Bouro, tendo voltado à Idanha em 1956. A sua actividade como Barbeiro manteve-a sempre, aplicando-a uma vez por mês, a um Sábado, em que montava uma cadeira no seu quintal e, munindo-se dos seus instrumentos, cortava o cabelo ao seu filho mais novo, aos amigos do mesmo que o acompanhassem e a quem lhe pedisse.
Faleceu a 7 de Dezembro de 1971, vitima de enfarto do miocárdio, no Hospital de Santa Maria e, foi para a sua última morada, o Cemitério de Almada, no dia dos seu aniversário, a 9 de Dezembro de 1971, acompanhado de todos os seus familiares e amigos, e um autocarro cheio de gente que, da Idanha, se deslocaram a Almada para o seu funeral.

Testemunho de Joel Pina, viola-baixo, que acompanhou Amália Rodrigues por todo o mundo:

"- O João António da Silveira Vinagre foi sempre uma pessoa da minha estima e consideração. Quando eu era rapaz novo, nas minhas idas a Idanha, para ramboiadas, o ponto de encontro era na sua barbearia que ficava, no Largo da Praça, junto do antigo edifício da Câmara que infelizmente foi demolido. 
Aí ensaiávamos. Eu tanto tocava bandolim, como guitarra ou viola e ele, por vezes, tocava acordeão, mas o seu instrumento preferido era a guitarra. 
Costumava também tocar connosco o José Ramos. Algumas das vezes, aparecia lá na barbearia o Cristiano e o Eurilo a assistir aos nossos ensaios. 
Era certo que a seguir, íamos beber uns copos ao Café do Carriço, que ficava ali perto da Igreja. Depois de animados, íamos tocar serenatas à porta das raparigas. Eram tempos de verdadeiro e são convívio que, naturalmente, recordo com muita e muita saudade. 
Nesses tempos, esteve na Idanha, durante muito tempo a Companhia de Teatro Rafael de Oliveira e foi então que conhecemos o Tony de Matos, que começou a cantar connosco.
Moram em mim as melhoras recordações desse amigo, desse músico de valor, que sempre estava disposto a ser prestável à sua terra e aos que lhe pedissem um favor."

in: Artigo do Jornal Raiano de Fevereiro de 2011, por António Catana

Testemunho de José Pereira Alves:

"- Ainda me lembra que o João António entre os inúmeros dons musicais que tinha, ainda possuía o dom de versejar. Era um poeta popular e criava, no momento versos, alusivos aos donos e donas das casas a quem cantávamos as Janeiras. 
Outra faceta importante da sua acção na vida social idanhense e na manutenção das nossas tradições era dar, sempre que podia, resposta afirmativa aos convites para que, tocando violino ou acordeão, animasse os bailes, no final das fainas agrícolas, nomeadamente no fim da colheita da azeitona, da descamisa, ou nos da amassadela, nos do dia do casamento, na serenata aos noivos e nos outros bailes que a juventude organizava.
Ele era o ensaiador e o principal impulsionador do Rancho Folclórico. Naquele tempo era difícil organizar um Grupo de Folclore. Era preciso pedir a cada um dos pais, em especial aos das raparigas. Tinha que se manter muito respeito e ser o ensaiador pessoa de confiança, ser pessoa muito séria. Daí reconhecer-lhe um grande mérito.
O João António estava sempre disposto a fazer fosse o que fosse, desde que fosse a bem da Idanha. Era só pedir-lhe.
Em 1962, por iniciativa de outro dinâmico idanhense António Soares organizaram-se Teatros a favor da nossa Filarmónica. O João António Silveira, eu, o Jorge Pita e o José Ramos Constantino fizemos parte do Conjunto Musical que actuava, nos intervalos das peças de teatro, preenchendo-os com um acto de variedades musical. 
Recorda-me ainda que ele colaborou, no Salão Paroquial, num Espectáculo de Fados e Guitarradas que organizei para a compra dos bancos da nossa Igreja Matriz, com artistas da nossa terra, nomeadamente, o Frederico Vinagre, seu sobrinho, a Ascensão Martins, o António Pereira Jorge, a Isabel Monteiro e outros que agora não me recordo do nome. Os instrumentistas foram: o João António e eu, à guitarra, e à viola, o José Ramos Constantino.
Era um homem fora de série. Na minha opinião, era um verdadeiro amigo do seu amigo, um músico considerado e apreciado, um homem bom e prestável, sempre pronto a organizar e a colaborar em iniciativas a bem do progresso da nossa Idanha."
in: Artigo do Jornal Raiano de Fevereiro de 2011, por António Catana