In Memorium
Percurso

Elogio Fúnebre

Querem-se bem ponderadas as palavras que compõem este elogio, que não é só da Tita, da Pati, da Marisa, da Nininha ou do Kilú, mas de todos os familiares, amigos e colegas do JOSÉ AUGUSTO MARTINS.

Não é tarefa fácil para mim, como seu filho mais novo, elogiar o Zeca, dizer das suas qualidades e virtudes, expressar-lhe uma vez mais o nosso profundo afecto e admiração, parece um oficio redundante; um desafio daqueles que a vida nos trás e que o ritual africano da despedida nos pede e de cujo encargo vou ocupar-me com a dignidade e a elevação que sempre nos exigiste.

Estamos aqui presentes nesta hora derradeira, para prestar uma homenagem sentida à vida de um homem simples, mas de grande caracter, o José Augusto Martins, rigoroso para consigo próprio e de uma lealdade exemplar para com todos que com ele conviveram.

Apanágios do destino: - nascera em Angola, Malange, mas seria Luanda a sua cidade de eleição e faleceu em Portugal. O que aqui evocamos hoje é a vida do nosso pai, uma vida consumida e provada até ao fim, no seu amor por nós.

JOSÉ AGUSTO MARTINS, ou melhor o Zeca, viveu 76 Anos, nascido a 10 de abril de 1944, faleceu a 8 de março de 2021. Filho de César Augusto Martins e de Judith Henriques Leitão. Estudou na Escola Primária nº 25, Vasco da Gama e concluiu os seus estudos secundários na Escola Industrial e Comercial de Malange onde fez o Curso Geral de Comercio e Secção Preparatória para ingresso no Instituto Superior de Contabilidade e Finanças em Luanda.

Em 1963 termina a secção preparatória e como aluno de mérito que era, foi convidado para fazer parte dos quadros de funcionários da administração do concelho, do distrito de Malange, hoje província de Malange, onde ingressou.

Em 1965 é mobilizado para prestar serviço militar obrigatório no exercito colonial português, tendo assentado praça na cidade de Nova Lisboa, hoje Huambo, na escola da aplicação militar, Sargento Milicianos.

Em 1966 é promovido a furriel miliciano e destacado para o leste de Angola, distrito do Moxico, hoje Província do Moxico, onde ficou na povoação de Nova Chaves, hoje Mucondo. Em 1968, já em Luanda, passou a disponibilidade.

Zeca, como era tratado desde a infância e nos tempos das lides estudantis. Emergiu duma família de rigor e de princípios, juntamente com os seus 7 irmãos, a Isarina, Maria do Carmo, Honório, Filomena, Armando, Adelina e Arminda, cujos valores passou aos seus descendentes.

Muito cedo construíste os alicerces do teu pensamento nacionalista e progressista. A situação colonial fascista entrava em choque com teus valores de liberdade e justiça social. Para dares expressão aos teus anseios, participaste orgânica e formalmente, a partir de 1974 antes do 25 de Abril português, na fundação da célula clandestina “ELAVOKO” afecta ao MPLA, juntamente com António Saraiva, fotografo do CITA – Centro de Informação e Turismo de Angola, Carlos Anapaz Pereira, furriel do exercito português, Ângelo Nunes, da Força Aérea Portuguesa, João Gonçalves, funcionário dos Serviços daFazenda e Contabilidade, Juvelina Figueiredo, estudante Universitária e Suzana Belo, funcionária da Camara Municipal de Luanda.

Em 1975, és preso pela policia portuguesa e prestes a seres enviado para o Campo Prisional de São Nicolau de triste memória, quando juntamente com o teu amigo e camarada Ângelo Nunes, numa das vossas brincadeiras, por volta das 22 horas da noite e perto do portão principal do Liceu Salvador Correia, hoje Mutu Ya Kevela, atiraram para a estrada a parte de trás dum banco de jardim e foram acusados de subversivos e de serem os elementos que andavam a pôr barricadas, nas estradas.

Pelo que sabemos a tua simpatia ao MPLA - Movimento Popular pela Libertação de Angola - data desde 1970.

É assim Zeca, que te vimos no dia 11 de novembro de 1975, no palanque, em que, Agostinho Neto, proclamou a Independência de Angola, teu e nosso país. Tu estavas lá como integrante da ODP – Organização de Defesa Popular, com arma nas mãos, juntamente com outros teus camaradas para protegerem Agostinho Neto. Nunca havemos de esquecer este teu acto heróico…

Casaste a 8 de março 1975 com Alice de Jesus Castelhano Maurício, e por coincidência a 8 de março de 2021, no dia em que fazias 46 anos de casado, partiste sem nos avisar.

A Tita com quem tiveste 4 filhos que não se conforma com a tua partida, da maneira como nos deixaste.

Eras exigente, disciplinador, mas também amigo dos teus filhos. A tua educação e respeito permitiu-nos a nós filhos escolhermos as opções dos cursos académicos que mais se enquadravam a cada um de nós.

Não há duvida que tu Zeca para a toda a família desde -o irmão, o primo, o tio - sem nunca o demonstrar ou pretenderes sê-lo, acabaste por te afirmares como o patriarca da família. O teu gesto mais sublime era a preocupação que nutrias por todos, a forma como acompanhavas a evolução da saúde, não só da tua mulher a Tita, como do resto dos familiares.

Zeca, tu eras o máximo e com saudade te recordamos lembras-te que quando saíssemos de carro e no regresso a casa, lá estavas tu a perguntar DONA ALICE – OS MEUS 4 JÁ ESTÃO NO CARRO?

E… quando era noite e estavas com fome dizias: NÃO SE JANTA NESTA CASA?

Para terminar não nos podemos esquecer da tua entoação melódica para chamares o Kilú, OH KILUAAAAAAAANJE!

José Augusto Martins, não podíamos deixar de focar o teu Benfiquismo, o teu glorioso como dizias, sem medo a toda gente.

Profissionalmente, foste impecável tanto na Mobil Oil Portuguesa e na Sonangol Distribuidora foste um trabalhador dedicado e impar, que contribuíste para a organização da Direcção dos Serviços de Contabilidade e Finanças. Sempre soubeste estabelecer laços humanos com todos os teus colegas e sobretudo receber os clientes com respeito e paciência.

Muito ficou por dizer, mas pode-se seguramente afirmar sem receio de errar, que o JOSÉ AUGUSTO MARTINS, foi um homem que viveu a sua vida vivendo como deve ser

Obrigado por todos estes anos que estiveste junto de nós!


Adeus Zeca

Até um dia