In Memorium
Esta Página de Homenagem foi criada para preservar a memória do Pe. António Vaz Pinto. Deixe as suas condolências, partilhe um episódio gratificante ou publique a sua homenagem.
Este tributo foi publicado por Maria Lourenço em 30 de junho de 2023
Não se esqueçam: Nascemos para Ressuscitar!
( palavras repetidas pelo P.António nos últimos EE por ele orientados, de 26 a 29 Maio 2022, no Rodízio, em que participei)

Conheci o P.António , no CUPAV, em 1985. Eu estava no último ano do Curso de Medicina e a partir desta fulcral fase da minha vida, iniciou-se o caminho de Fé acompanhado , ao longo dos anos, pelo testemunho único do P.António.
Muitas e saudosas recordações, nomeadamente: CIF, Encontros Mensais, Serões com..., Viagem à Terra Santa em 1989, Viagem Abraço Ortodoxo em 2018, Conversas pessoais, Exercícios Espirituais, tanto reconhecimento pelo bem recebido e uma incomensurável gratidão!...

Durante a última conversa que tivemos, ocorrida nos EE de 26 a 29 Maio de 2022... e perante a minha inquietação perante a complexidade do mundo e das mulheres e homens que nele vivem...o P.António disse-me:
esta não é a última palavra, o que se sobrepõe a tudo isto é a Esperança na Ressurreição e no Ressuscitado!...

No dia 29 de Maio 2022, após a Missa do final da tarde e dos EE, despedi-me do P.António , com as palavras que repito hoje : Obrigada !!! Até à próxima !

30 de Junho de 2023

Maria Fernanda de Almeida Patrício Lourenço













Este tributo foi publicado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
João Arez

A energia esfuziante que o Pe. António Vaz Pinto entregava a tudo o que fazia e que o consumiu até ao fim da sua vida entre nós, não era fruto de um activismo inato, mas de uma oração discernida:
"em recta intenção, se posso, devo; se devo, quero; se quero, faço confiando na graça de Deus". Cada um destes passos tinha uma pequena check-list. Falámos várias vezes sobre isto.
Este tributo foi publicado por Margarida Mendonça em 4 de julho de 2022
Do P. António, guardo traços diferentes que a mim, particularmente, me tocaram.

O P. António era, há muito, figura pública, mas eu pouco ou nada o conhecia! Um dia, tocou o telefone em minha casa e ouvi o meu marido atender alguém. Após alguns minutos de conversa, passou-me o telefone, pois a pessoa queria também falar comigo.

Identificou-se:
" - Sou o P. António Vaz Pinto. Venho convidá-la para vir integrar a CVX!"
Fui apanhada de surpresa e a minha reacção espontânea soltou-se:
" - CVX? O que é isso? Nem sei o que é nem sei se quero!"
Respondeu determinado:
" - Não sabe? Então, venha ver o que é! Venha no dia x à reunião, no local y, aqui no Porto! Se gostar, fica; se não gostar, vai-se embora!"

Na verdade, nunca tal me sucedera: uma pessoa que não conheço ligar-me com esta desenvoltura para me convidar deste modo!

E, surpreendentemente, lá fui!
E, surpreendentemente também, lá fiquei... até hoje!

Era assim o P. António que comecei a conhecer de perto em 2002 - decidido, pronto a desestabilizar inércias!

Mas, para lá deste desassombro de quem vivia sob uma luz que o conduzia, há ainda outro traço que me impressionou neste homem!

Fiz algumas vezes Exercícios Espirituais orientados por ele.
Pude ver o inimaginável: a transfiguração que o tomava.
Chegava vivo, um homem de relação social desinibida e solta, comunicativo, esfusiante, pronto ainda, entretanto e sempre, "a puxar as orelhas" aos amortecidos...
Ao segundo dia, passando por ele, descobria um outro homem: o primeiro "volatilizara-se"! No rosto, ficara a inocência, o silêncio contemplativo de uma criança embrenhada num mundo só seu... Era verdadeiramente tocado por Deus e a oração transformava-o - o seu olhar revelava-o!

Guardo comigo essa profunda novidade de uma personalidade tão rica, capaz da interpelação mais exigente e incontornável e da mansidão mais fraterna.
Guardo comigo - dele - o modo de ser cristão alegre e sensível, o modo como o Espírito Santo faz, das características únicas de cada um, uma vida de Deus hoje e sempre.

             Margarida Mendonça, CVX Porto
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
Por Teresa Lage

Uma notícia muito triste! Morreu o padre Antonio Vaz Pinto.
Era um revolucionário, um entusiasta da vida, um jesuíta sempre ativo que nunca perdeu o seu sentido de missão e marcou gerações. Foi fundador do Banco Alimentar, esteve ligado aos Centros Universitários de Lisboa (CUPAV - Centro Universitário), Coimbra, ao Fórum Estudante, aos Leigos para o Desenvolvimento, foi Alto Comissário para as Migrações, foi apoio essencial, orientação, amigo de todas as horas, de muitos milhares de pessoas… foi, na RFM, o autor da rubrica "Às vezes vale a pena pensar nisto" e muito mais!
Vamos sentir a sua falta! Até sempre querido Padre António Vaz Pinto!
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
O reconhecimento do papel ímpar do P. António Vaz Pinto nas políticas humanistas de acolhimento e integração de imigrantes em Portugal é hoje subscrito pelos cinco (todos) Altos-comissários para a Imigração que o antecederam e lhe sucederam que , em voz unânime, o afirmam neste artigo de opinião que o jornal Público publica na sua edição de 4 de julho, dia em que se celebra as exéquias do P. António Vaz Pinto.

Acolher e integrar imigrantes: uma política humanista
in memoriam de António Vaz Pinto

Portugal, nas últimas duas décadas, tem sido recorrentemente apontado como um exemplo de boas práticas em políticas públicas de acolhimento e integração de imigrantes. No MIPEX (https://www.mipex.eu/) essa avaliação, que considera mais de 60 indicadores e representa a ferramenta mais robusta de comparação entre países, colocou sempre Portugal no top 3, a par com a Suécia e a Finlândia. Claro que isso não significa que atingimos a perfeição. Longe disso. Sabemos que muito há a fazer e estamos muito aquém do ambicionado. Mas, ainda assim, há que registar o êxito do caminho traçado.
Este percurso resulta do esforço de muitos protagonistas, no Estado e na Sociedade civil, que têm dado, ao longo do tempo, o seu melhor para que os imigrantes possam ter um acolhimento que respeite a sua dignidade humana e uma integração plena, baseada na equidade, no respeito pela diversidade na unidade e na igualdade de oportunidades. Porém, sendo fruto de tantos, importa honrar, no dia do seu regresso à sua “outra Casa”, o contributo ímpar do P. António Vaz Pinto.
Foi decisivo o impulso dado por si, entre 2002 e 2005, com a criação do Alto-Comissariado para Imigração e a estruturação de uma política integrada e sistémica para o acolhimento de imigrantes, que sucedeu à criação do ACIME em 1996, antes da qual, no dizer de vários académicos, a imigração era relegada para a categoria de "realidade virtual".
Depois do trabalho feito anteriormente por José Leitão, coube então a António Vaz Pinto a missão de liderar essa nova etapa. Sob a sua égide, por exemplo, foram criados os Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante (CNAI), proporcionando um “Estado de rosto humano” para todos os imigrantes que regularmente se viam perdidos nos pântanos burocráticos. Recuperaram-se atrasos colossais, garantiu-se apoio jurídico, mobilizaram-se parcerias com as associações de imigrantes para garantir o serviço de mediadores que eram exímios a fazer pontes. Aos CNAI, somaram-se também Centros locais, Serviços de apoio telefónico, incluindo tradução simultânea ou ainda recursos informativos essenciais. Estes serviços continuam a ser centrais nas respostas aos imigrantes e ser referência internacional. Mas tão importante como isso, foram as conquistas de direitos, que permitiram progressos significativos na proteção dos imigrantes, com uma regularização de 70.000 pessoas que se encontravam em situação irregular ou com a garantia de proteção das crianças filhas de imigrantes em situação irregular, com acesso à educação e à saúde, ou ainda do alargamento significativo da possibilidade de reagrupamento familiar. Foi também nesse tempo que se conseguiu um avanço significativo para tornar mais inclusiva a lei da nacionalidade ou se conseguiu o relançamento do Programa Escolhas, que ainda hoje prossegue o seu caminho. Para tudo isto, colocaram-se entidades públicas a colaborar em função do serviço aos imigrantes e desafiaram-se políticos a irem mais longe num quadro legislativo que permitisse resolver os problemas concretos da vida destas pessoas. Em todo esse percurso foi essencial, a arte e a sabedoria de António Vaz Pinto, na permanente busca de um largo consenso político, social e cultural em torno desta causa. E conseguiu-o. Construiu pontes, dialogou, foi firme quando foi necessário e levou a sério a interpretação do princípio da “política como mais nobre forma de caridade”.
Para milhares e milhares de imigrantes, a sua forma de servir o bem comum, com as suas equipas e todos os que o antecederam e sucederam, fez a diferença. Acresce que este não foi um gesto único. O seu empenho anterior na ajuda ao desenvolvimento nos países de origem (com a criação dos Leigos para o Desenvolvimento) ou com a posterior criação de um centro de acolhimento (Centro S. Cirilo, no Porto) mostra bem a coerência de que era feito. Para nós, se depois porventura pudemos ir mais longe, foi por que estávamos aos ombros de um gigante. Obrigado P. António.

José Leitão – Alto-Comissário (1996-2002)
Rui Marques – Alto-comissário adjunto (2002-2005); Alto Comissário (2005-2008)
Rosário Farmhouse – Alta comissária (2008-2014)
Pedro Calado – Alto-comissário (2014-2020)
Sónia Pereira – Alta-comissária (2020 - …... )
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
OPINIÃO um Público

“O que é que és ao Padre Vaz Pinto?”
Sem desprimor para outros membros da família, a verdade é que bastava estar uns minutos com ele para perceber porque é que os graus de parentesco se afeririam dali.

Manuel Queiroz Ribeiro
2 de Julho de 2022, 10:00

Conheço o Padre António Vaz Pinto desde que me lembro. Das missas do galo e da Páscoa, em particular dos momentos em que, com algum autoritarismo, mandava calar os miúdos irrequietos que não compreendiam a importância da Santíssima Trindade. Seguidas dos faustos almoços de Natal e Páscoa em que não se coibia de comer um bom cabrito e de beber um bom vinho, enquanto explicava em privado o que tinha acabado de celebrar em público. Na verdade, explicava isso e muitas outras coisas, uma vez que era verdadeiramente um cidadão do mundo, com um saber absolutamente magistral e digno de se colocar num pedestal pela forma como o transmitia. Essa era uma das razões pelas quais lhe chamava com orgulho (e continuarei a chamar) tio.

O Padre António Vaz Pinto partiu no dia 1 de julho de 2022. Deixa uma família enorme. Do lado que me toca mais diretamente, julgo que para cima de 500 (quinhentos) irmãos e primos e outros parentes da linha colateral do ramo Vaz Pinto do qual faço parte. Tão grande que me recordo distintamente de, com talvez dez anos, ter participado num almoço onde se quis juntar a prole toda em Arouca, na Quinta do Boco (local onde se passavam os tais almoços a seguir à missa das festividades por ele celebrada). Quer nesse almoço, quer sempre que encontrei ao longo da vida alguém de quem poderia (sem conhecer, naturalmente) ser parente por essa via, a pergunta que se colocava invariavelmente era “o que é que és ao Padre António Vaz Pinto?” Sem desprimor para outros membros da família, a verdade é que bastava estar uns minutos com ele para perceber porque é que os graus de parentesco se afeririam dali.

O Padre António Vaz Pinto foi alguém muito relevante do ponto de vista humanitário, não só no nosso país, mas no mundo. Como bem referiu S. Exa. o Presidente da República: “António Vaz Pinto foi uma das figuras da Igreja Católica mais marcantes dos anos 70 até ao virar do século, na Companhia de Jesus, na Cultura, e, sobretudo, na formação da Juventude Universitária – quer em Lisboa, quer em Coimbra –, e na presença pioneira no mundo da língua portuguesa. De raras qualidades humanas e vocacionais, o seu poder de mobilização dos jovens dele fez um arauto inspirador de causas e missões comunitárias.”.

Ao longo dos tempos foi aparecendo na minha vida, mas de alguma forma sempre presente.

Esteve presente e celebrou os inúmeros batismos dos meus primos mais pequenos, aonde gostava sempre de ir e de contar depois histórias interessantes e engraçadas.

Esteve presente quando quis fazer um trabalho no secundário para a disciplina de História sobre o ecumenismo, no âmbito do qual o entrevistei com um amigo: escusado será dizer que tivemos a melhor nota e a professora, no fim da entrevista, disse qualquer coisa como “Este Padre António Vaz Pinto… Se pudesse dar-lhe 20 valores, dava”.

Esteve presente quando esporadicamente me fui aconselhando com ele sobre o meu futuro profissional (também ele tirou Direito, e também ele gostava de muitas outras coisas).

Mas mais importante, abençoou o meu casamento, fará agora um ano. Na verdade, foi parte fundamental não só nesse incrível dia como de todo processo.

Essa é outra das razões pelas quais tenho orgulho em chamar-lhe tio: não sou crente. Todavia, recordo com humor o momento em que ele me pergunta “Então conta lá: tens ido à missa?”, ao que eu respondo, pela enésima vez, “Tio, não sou crente…” e ele apenas responde “És é preguiçoso…”. Julgo que para ele era mais fácil aceitar a preguiça como justificação para não acreditar ou praticar algo que para ele era evidente. Percebeu, sem prejuízo, que para nós era importante casar pela Igreja e que fosse ele a casar-nos.


Nesse contexto, eu e a minha mulher estivemos umas quantas vezes com ele nos últimos anos. Beneficiámos, por isso, do tempo dele no âmbito dos tais faustos almoços que muito nos alegraram e no final dos quais gostava de o imitar a falar na brincadeira, mas sem grande sucesso: era inimitável.

Foi verdadeiramente uma honra têrmo-lo tido a ele, o tio, a abençoar o nosso casamento – “Não é coisa pouca”.

“Sempre tive uma ótima relação com a morte, nunca me assustou. A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de um quarto de hora. É só mudar de casa”. Padre António Vaz Pinto

Querido tio, espero sinceramente que na nova casa haja uma mesa onde um dia, daqui a muitos anos, possamos novamente almoçar. Prometo que nesse dia serei menos preguiçoso.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
Maria Fernandes Tomás

“Caramba!”

O Padre António só precisava de 15 minutos para mudar de vida, pois eu vou precisar do resto da minha para ‘mastigar’ a sua falta.
Ainda ando a aprender com ele que na vida não existem dúvidas ou hesitações, só discernimento e mesmo esse muito rápido, para ele era tudo extremamente claro e muito fácil, somos pobres pecadores que estamos aqui para fazer a vontade de Deus e mais nada! O resto são lamechices ou perdas de tempo!

Tinha um feitio salgado, o comando era seu nos tempos que queria e como queria, e também era o gps independente do sentido dos carros… acredito que o mundo se completa e anda numa maior velocidade à conta de tanta determinação. “Faça o que eu digo que eu é que sei”

Em grupo era tudo a pulso e desajeitado, no mano a mano era em jeito de doçura e humildemente perguntava “Achas que fui bruto? Tu vê lá quando eu for bruto chama me a atenção.”

Tinha uma memória prodigiosa e um grande contador de histórias, um catequetico brilhante, tirou dúvidas e esclareceu nos a todos sobre tudo.

O nosso taco a taco era à mesa, “E a menina já provou as morcelas doces de Arouca?”, conversas de comidas e bebidas, trocas de receitas, provas e peregrinações gastronómicas.

Perdia-se nas ruas de Lisboa fascinado pelas obras e património mas encontrava-se nas tantas obras de Deus que desenhou e construiu.

Faz me eco a nossa última conversa já no hospital…
“Não vale a pena estares com essas preocupações, porque estou muito bem fisicamente, psicologicamente e espiritualmente!”
E sei que se me visse hoje, assim tão triste, iria ralhar comigo
“Caramba rapariga!
Que falta de fé!”

(Um grande e bom amigo a quem agradeço todo o bem que me fez)
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
As saudades que sinto do P. António.
Acho que sem perceber achei que ele estaria sempre, que as nossas gargalhadas seriam eternas..
Uma sensação estranha que me apanhou desprevenido.
E ao mesmo tempo uma gratidão enorme por tudo e tanto que a vida me deu com ou através do P. Antonio.
Luís Cabral
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
João van Zeller
In Observador
02.07.2022

Padre António Vaz Pinto: um genuíno e eficaz “influencer”

O Padre António Vaz Pinto foi um bálsamo para a vida “civil” de milhares de pessoas, sujeitas a terramotos exteriores e interiores que palpitam, não param, e a quem ele trouxe amparo à sua existência.

A complexidade da pessoa resultava da força do seu carácter, o fascínio vinha do íman da palavra, da sua capacidade de comunicação. Alavancado numa Fé inabalável e numa erudição teológica de solidez pétrea, iluminou com eficácia ímpar a vida de milhares e milhares de pessoas ao longo dos seus 80 anos de vida.


Padre António Vaz Pinto: uma vida para Deus com ele

Era particularmente curiosa a mescla da personalidade. Aliava a sua humanidade comum (sentido de humor, por vezes contundente, aliado ao prazer do bom prato e da boa pinga) a um humanismo inspirador, traduzido nos anos 90 como mola para o arranque de obras de solidariedade social de enorme alcance. Por outro lado, associava a autoria de livros de teor espiritual de enorme profundidade, ao memorialismo, este em dois textos publicados pela Editora Alêtheia, intitulados a “A História de Deus comigo” (o segundo sendo de uma graça, espontaneidade e leveza inesperadas) a um total desinteresse pelas importâncias mundanas que a sociedade civil lhe trouxe, sobretudo quando exerceu de forma exemplar as funções de Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas, o que levou Jorge Sampaio a condecorá-lo com a Grande Ordem do Infante D. Henrique, tema sobre o qual nunca lhe ouvi uma palavra.

Era particularmente curiosa a forma como se abalançava a cada um dos seus Projectos. Foi sempre com empenho, determinação e, que se saiba, com êxitos sucessivos. E, uma vez que cada um passava a funcionar, transitava para o próximo, sem nunca mais referir o anterior.

Numa ocasião em que ele estava a viver no Porto na Residência Jesuíta da Rua Nossa Senhora de Fátima, fui buscar este Amigo de uma vida pelas 20 horas, para jantar. A Residência, que eu conhecia de sempre, era recolhida, silenciosa. Tem uma entrada pela Rua Oliveira Monteiro que, nesse dia, enquanto o aguardava no passeio, parecia estar em festa. Assisti a uma multidão de jovens a entrar e a sair, alegres, esfusiantes. Intrigado, abordei um grupo para perceber o que é que se passava. Foi fascinado que escutei o relato entusiasta da razão do tumulto daquela juventude: o CREU, Centro de Reflexão e Encontro Universitário Ignacio de Loyola, escola Jesuíta de Fé e de encontro para universitários, e Famílias, crentes e não crentes, fundada nos anos 90. Quem foi a mola de arranque neste Projecto que não para de crescer? António Vaz Pinto, que aí semeou uma nova alegria de viver para milhares de jovens universitários.

Ingressámos na Faculdade de Direito de Lisboa no mesmo ano de 1960, e desde então ficámos amigos. Deixou-a no 4º ano para ingressar no Seminário de Soutelo em Braga. Nos anos da Faculdade, graças a António Vaz Pinto, alguns dos bairros mais desfavorecidos de Lisboa, como a Musgueira e a Quinta da Calçada, encontraram o ombro esperançoso em muitos jovens universitários que, por seu lado, descobriram o significado da sua responsabilidade social para toda uma vida.

E antes do CREU surgiu o ambicioso CUPAV, Centro Universitário Padre António Vieira, em Lisboa, onde nasceu o Banco Alimentar numa reunião de umas nove pessoas convocadas pelo Padre António e seu irmão, o Comandante José Vaz Pinto. E lá emergiram muitos outros Projectos de enorme alcance social. A alguns fiquei ligado desde o início, pois em 91, numa visita a Lisboa, já para aqui me instalar no ano seguinte, após quase trinta anos fora de Portugal, ele foi enfático: “tens de pagar o imposto de ausência !”.

E do CUPAV, CREU, etc, passou para outros Projectos em Coimbra, em Braga, Póvoa do Varzim, Lisboa e Évora, tal como tão bem descreve o Comunicado da Companhia de Jesus, emitido aos media logo após o seu falecimento.

Era um comunicador de invulgar clareza, fluência e transparência. Por um lado, possuía um timbre de voz perfeito, e era mestre nas pausas, na “petite histoire” e na anedota oportuna, que traziam frescura e estimulavam a atenção da audiência. Era dotado também de um body langauage , uma linguagem corporal, que trazia empatia a quem o via e ouvia, sempre com uma informalidade e um à-vontade pouco comuns entre Padres, qualidades que suponho resultavam do saudável universo familiar em que foi educado.

Graças a essas características, à sua riquíssima cultura teológica (adquirida na Alemanha ao lado de Joseph Ratzinger, mais tarde Papa Bento XVI), e à sua inteligência, tornou-se poderoso e envolvente nos conteúdos que transmitia quando falava, fosse nas suas homilias, fosse nos Exercícios Espirituais que conduzia com brilho, fosse nas conferências, debates e ciclos de estudo em que participava. Um capital pouco comum e valiosíssimo que poderia ter sido aplicado através dos eficacíssimos novos meios telemáticos.

António Vaz Pinto era por alguns equiparado a Robert Barron, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Los Angeles, nos EUA (recém-nomeado Bispo de uma Diocese no Wisconsin), cujas comunicações em plataformas sob a designação Word on Fire, no YouTube, Podcasts, Facebook, Twitter, e televisão, tem milhões de seguidores em todo o mundo. Aliás como Fulton Sheen que na rádio e TV americanas nos anos 50 e 60 teve 30 milhões de pessoas a ver/ouvir em directo, o que o levou a ganhar um EMMY Award em 1952 como personagem televisivo do ano. Faleceu há pouco outro dos grandes comunicadores da Igreja Católica portuguesa, o Padre João Seabra. Infelizmente, nem o Padre Vaz Pinto, nem o Padre Seabra, chegaram a utilizar os meios evangelizadores exemplificados pelos dois americanos referidos.

Na realidade, o Padre António Vaz Pinto era um despojado, uma virtude teologal que pregava com veemência. Era um dos temas de grande debate, pois tinha de ouvir aqueles para quem, apesar de possuírem bens de valor irrelevante, ou outros que nem tanto, esses bens representam passos de vida onde todos vamos encontrando luzes e sombras, e que testemunham o valor e o milagre da existência humana nesta terra. Os livros, por exemplo. Sobre esses, um alfarrabista disse-me há pouco tempo que, apesar de o conjunto ter “alma”, ela é mortal, a biblioteca morre com cada um que a constrói. Aí, o despojamento do Padre António vacilava…. E assim, a questão da graduação do “abandonar tudo” ou “abandonar muito, pouco ou nada” era conversada de forma complexa, em que muitos dos que o seguiam acabavam por reconhecer, não sem dificuldade, a banalidade incontornável do apego aos bens materiais, por poucos que sejam.

António Vaz Pinto foi um bálsamo para a vida “civil” de milhares de pessoas, sujeitas a terramotos exteriores e interiores que palpitam, não param, e a quem ele trouxe o amparo para uma existência espiritual mais esperançosa.

O seu horizonte decisivo chegou antes de integralmente cumprido o seu tempo. Mas todos os que o conheceram, sabem que agora o seu horizonte passou a um infinito sublime. Antes e agora, um “influencer” incontestável e incontornável.

O difícil espaço que o António Vaz Pinto deixa vazio entre os que cá ficam, e lhe eram próximos, acaba por constituir um legado de Esperança que ele soube transmitir a tanta gente, que nunca o esquecerá. Nestes últimos tempos tive a sorte de poder manter com ele horas de conversa, nunca o vira tão brilhante. Recentemente, em Évora, encontrei-lhe a alegria de viver que sempre teve e sempre conseguiu transmitir. Num longo telefonema a convidar-me para a festa dos 80 anos no passado dia 3 de Junho (a q não pude assistir pois estava na Alemanha), mais uma vez a sua vivacidade ficou manifesta, não dando sinal de qualquer moléstia. Mas a sentença de morte ficou ditada três dias depois, e partiu ontem, dia 1 de Julho. Para além do inspirador que foi em tantas ocasiões para tantos, era um amigo genuíno, quantas vezes saudavelmente abrasivo.

Era o verdadeiro “influencer”.

Nota: Cerimónias fúnebres: no sábado, dia 2, Coimbra, 18 h, na Sé Nova, e Lisboa, 19 h, S. Roque. No domingo, dia 3: Porto, 12.15, Nossa Senhora de Fátima e 19 h, Cedofeita; Évora, 19.30, Nossa Senhora do Carmo; em Lisboa, 21.30, corpo presente, Colégio S. João de Brito. Na segunda-feira, 4 de Julho, às 10 da manhã, será celebrada Missa de Exéquias na Igreja do Colégio S. João de Brito, em Lisboa, indo de seguida o corpo a sepultar no Cemitério do Lumiar.
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
Inês Teotónio Pereira
In Observador
03.07.2022

A Igreja do Padre António

Dizia o padre António que só precisava de 15 minutos para se habituar a uma nova morada; pois nós aqui em baixo vamos precisar de muito mais tempo para nos habituar à sua nova morada.

Não nos conhecemos novos: nem eu era nova e já ele estava quase a completar os 70 quando cruzamos caminhos. Por isso, não assisti a nenhum dos feitos que o tornaram na pessoa pública que foi, não participei na construção das obras notáveis que todos conhecem e nem me aventurei em nenhuma das viagens históricas que ele liderava ano após ano com rigor e pontualidade.

“Padre António, sente-se aqui à frente”, pedi-lhe, enquanto abria a porta do carro com todo o cerimonial. “Era o que faltava! Isso era antes do Vaticano II, na altura do clericalismo: vais tu à frente porque quem vai a guiar é o teu marido e o carro não é meu”. O padre António ensinou-me Igreja, mostrou-me Cristo, disse-me que um Santo é um pecador que não desiste.

“Vocês repararam que os jacarandás já floriram? Lisboa fica linda nesta altura do ano”. Sempre que os jacarandás estão floridos, lembro-me do padre António Vaz Pinto. Ensinou-me a apreciar a beleza das acções humanas em cada história que contava, porque cada história era simples e exemplar ou era alegre, tal como deve ser a Igreja. “Se eu já contei esta história, vocês avisem-me. Não quero estar a maçar e não façam cerimónia em interromper-me!”. Era uma ordem. Mas não havia nada melhor do que ouvir aquelas histórias sem nomes, só de lições e de piadas.

Ensinou-me que ser Igreja é ser alegre. O rosto de Cristo não é um rosto macambuzio, triste, desiludido, franzido. E cada cristão é o rosto de Cristo no mundo. Era tudo claríssimo dito por ele, explicado por ele. “Estou a ser claro?”

Aos seus olhos, no seu coração, a esperança nos homens e no mundo era quase infinita. Era a que Deus quisesse e que ele, todos os dias, devia rezar para manter viva, apesar das guerras, da miséria, das desilusões, da maldade que teimavam em tentar derruba-lo. Mas valia sempre a pena mais um esforço pelo outro, por uma causa, por um objectivo; porque o desanimo, o pessimismo, o desespero era o contrário do bem, de Deus, – ensinou-me ele.

Ensinou-me Cristo. Mostrou-me em cada Evangelho a misericórdia e a paciência de Cristo e como isso me ajudou a ser mãe, a crescer na Fé. Em tantas explicações sobre as Escrituras, revelou-me a sua intransigência e rigor no Bem, na sua amizade com Cristo. Assim como a sua displicência e tristeza silenciosa por tudo o que divide os homens. Nunca lhe vi cinismo, sarcasmo – coisas que os homens intrinsecamente bons não reconhecem, nem em si nem nos outros.

Também não perdia tempo, nem desperdiçava talentos, não deitava fora as dádivas de Deus: oferecia, fazia, conhecia, lia, partilhava. Até ao último folego. E desafiava. Desafiava a fazer, a dar, a ler, a conhecer, a partilhar. “Sabem porque é que os países da África subsariana se desenvolveram mais tarde do que os países do Norte de África?” Foi a última vez que estivemos juntos. Fizemos mais de dez tentativas mas ninguém acertou. “Vou convidar o Paulo Portas e o Jaime Nogueira Pinto para jantar e descobrir se eles sabem”.

O padre António era Igreja. A Igreja do Papa Francisco, do Papa Bento XVI, a Igreja das periferias, da amizade com Jesus, a Igreja que procura Cristo em todas as coisas, que é intransigente na procura do bem e implacável com o mal. Uma Igreja de esperança e sábia; humilde em Cristo; fiel à tradição e ao rigor da sua História.

Dizia o padre António que só precisava de 15 minutos para se habituar a uma nova morada; pois nós aqui em baixo vamos precisar de muito mais tempo para nos habituar à sua nova morada.
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
Em memória do P. António Vaz Pinto
ESPECIAL P. ANTÓNIO VAZ PINTO

Um testemunho de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa que conheceu de muito perto o P. António Vaz Pinto.
Isabel Jonet
3 Julho 2022

Quando somos confrontados com a morte de alguém que nos é próximo há certamente um sentimento de tristeza causado pela separação física, mas, em simultâneo, vem-nos à memoria a vida partilhada, feita de momentos, de conversas, de interações, de vivências.

O Padre António Vaz Pinto foi uma pessoa rara: por onde andou – e andou por muitos lugares – deixou marca e tocou vidas. Mas deixou-se também tocar pelas pessoas e pelas terras, num intercâmbio fecundo que deu muitos e bons frutos.

Conheci bem o Padre António, cofundador do Banco Alimentar, com o seu irmão José, e membro de várias Direções da instituição. Abriu muitas portas, fez muitas pontes, mobilizou muitas pessoas para uma causa pela qual se bateu por acreditar que dar de comer a quem tem fome, lutando contra o desperdício e encaminhando as sobras, mais do que solidariedade é justiça. Tivemos muitas conversas e discussões, pois nunca se negava a um confronto de ideias e de opiniões, sem, todavia, impor as suas, mas antes procurando perceber as motivações dos outros e se lhes encontrasse justiça, não hesitando em dar-lhes razão. Sem, no entanto, ceder nunca nos princípios e com uma fé inabalável, fruto da confiança no amor de Deus de que dava testemunho constante. Bom conversador, tinha sempre uma história para contar, fosse passada consigo ou com algum conhecido. Culto e engraçado, com sentido de família, seja aquela onde nasceu, seja aquela que escolheu por vocação, gostava realmente de pessoas.

O Padre António deixa obra em vários domínios, das entidades em cuja criação participou, aos livros que escreveu, das peregrinações que organizou, aos Exercícios que orientou, mas, sobretudo, deixa uma marca indelével em tantas pessoas que tocou, em encontros por vezes improváveis que nunca desperdiçou retirando algo para a própria vida. Os movimentos e obras que criou e aos quais esteve ligado tinham o denominador comum de interpelarem jovens, procurando que, de forma enquadrada, ganhassem sentido e vivessem com valores, sem ignorar ou esquecer os mais velhos cujos talentos sabia bem pôr a render.

O legado que nos deixa é como o jardim que plantou no CUPAV: inclui todas as variedades de árvores citadas na Bíblia, que medraram e hoje dão fruto, numa riqueza com sentido. Teve uma vida boa e soube sempre aceitar o que lhe calhava com um sorriso, dando testemunho e contagiando-nos a confiar no amor de Deus.

A nossa vida fica mais rica quando se cruza com pessoas do gabarito do Padre António Vaz Pinto. É também esse o legado que deixa a tantos e que hoje agradecemos. Pessoas assim são raras.

Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
Francisca Assis Teixeira

Hoje morreu o meu Amigo Maior. Esteve ao meu lado em TODOS os momentos importantes. Nos momentos tristes e difíceis e nos momentos de alegria. Ensinou-me tudo o que sei sobre a sabedoria inaciana. Foi boia de salvação sempre disponível, sempre sábio, ponderado, justo. E era da casa, da família. Conhecia-lhe os hábitos, as manias, as fúrias, as histórias ..... Foi bem e está bem, tenho a certeza. Já eu, fico sem chão. Até já querido Padre António.
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
Rui MP Marques

Três palavras para um Homem bom.

Morreu o nosso melhor amigo. Mas não é só isso. Partiu o P. António Vaz Pinto, uma das figuras mais relevantes da sociedade portuguesa nas últimas décadas, seja na vida da Igreja que serviu e amou, seja na política de acolhimento de imigrantes, que revolucionou enquanto Alto-Comissário, passando também por tantas outras realidades que criou e animou, dando vida ao seu desejo de tudo cumprir “Para a maior glória de Deus”. Esta era a face pública deste gigante. Mas ainda mais importante, foi o que representou para tantos que acompanhou, ouviu, consolou, iluminou e animou. Para todos esses, entre os quais nos incluímos, é tempo de dar graças a Deus pela sua vida e por tudo o que representou para cada um de nós.
Escolhemos, para falar dele, três palavras que configuram o que nele víamos, como exemplo e como referência.


O P. António tinha, na sua vida, uma verdadeira pedra angular: a sua fé. Numa forma muito bonita, contava a História de Deus com ele, afastando de si qualquer mérito pessoal dessa relação. Para ele, esse encontro de fé era dádiva. Mostrava sempre como, ao longo da sua vida, se foi deixando encontrar por Deus, nas três Pessoas da Santíssima Trindade, que se tornava(m) presente(s), sempre e em tudo. Como, na sua experiência de fragilidade humana, tinha encontrado sempre a resposta do Amor infinito, incondicional e transformador que Deus representava, mesmo (e sobretudo) perante as nossas falhas ou limitações.
Nunca escondeu esse tesouro só para si. Partilhou-o abundantemente com todos à volta, num exercício incansável de evangelização. Ao longo de quarenta anos, vi-o dar Exercícios Espirituais a milhares de pessoas, ser voz na Rádio Renascença de um Deus para os nossos dias, realizar inúmeras Conferências, animar CIF – Cursos Intensivos de Fé, dinamizar de CVX e, sobretudo, atender inúmeras pessoas que encontravam nele uma imensa capacidade de escuta e um mestre em ajudar cada um no seu discernimento.
Quis este Deus generoso que pudéssemos ter estado na sua última expressão deste serviço à Fé, nos últimos Exercícios Espirituais que orientou, como tão bem fazia. Apesar da doença cavalgante, em nada se notou. Com a sua energia característica guiou-nos mais uma vez por esse roteiro inaciano tão especial, acompanhando cada um nesse encontro transformador.

Serviço
O P. António levou muito a sério não só o serviço da fé, mas também a promoção da justiça. Numa e noutra dimensão, a sua capacidade de “em tudo amar e servir” era notável. Acompanhamo-lo em muitas dessas missões, pelo que somos verdadeiramente privilegiados. Sempre vi nele, esse anseio de procurar dar resposta aos grandes desafios do nosso tempo, colocando-se na primeira fila do pensar e do fazer. Foi um inovador exímio, ao criar respostas para esses desafios, através de uma ação concreta, sustentável e transformadora. Da sua ação e inspiração, sempre com outros que nunca dispensava no caminho, nasceram o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, (com os seus companheiros P. Alberto Brito e P. Vasco Pinto Magalhães) e o Centro Universitário P. António Vieira. Neles cumpriu uma das suas principais vocações: o trabalho com jovens universitários. Depois, sucedeu-se a fundação dos Leigos para o Desenvolvimento, como expressão do seu compromisso com a construção de um mundo mais justo, promovendo um verdadeiro desenvolvimento humano, que fosse integral e sustentável. Seguiu-se o seu impulso, com o seu irmão José Vaz Pinto e outros amigos, para a criação do Banco Alimentar contra a Fome. Depois veio o desafio do Alto-comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas. Aí, com a sua equipa, revolucionou as políticas de acolhimento e integração de imigrantes, colocando Portugal como uma referência de boas práticas a nível mundial, sendo capaz de inspirar governantes, políticos e líderes da sociedade civil para essa missão. Criou ainda, entre outras atividades, o Centro São Cirilo, no Porto e deu o seu contributo para o que é o centro da Brotéria.
Porquê a importância desta memória grata por tudo o que criou? Essencialmente para se perceber que nele tudo impelia à ação, numa afirmação da responsabilidade de agir. Leva muito a sério a máxima do P. António Vieira: “Só existimos nos dias em que fazemos; nos outros apenas duramos”. Para isso, precisou muitas vezes de coragem, qualidade que não lhe faltava e de uma energia inesgotável. Mas reafirmava sempre em relação a todas essas obras que não precisava de mais de 15 minutos para partir. Orgulhava-se de ver como todas estas obras continuavam pujantes já depois dele, num exemplo excelente de maturidade de quem tinha a sabedoria de se tornar dispensável.

Amor
Se todas as anteriores palavras o retratam, gosto de reter como muito especial, o Amor. Pode soar estranho, mas achamos que vida do P. António foi simplesmente um exercício de amor. Não só a Deus, mas também aos irmãos. Seguramente com as suas fragilidades, claro. Mas, nunca se cansou de buscar a santidade, enquanto “pecador que não deixa de tentar fazer melhor”. Esse Amor para connosco era exigente, raramente doce e sempre a puxar para o Magis. Mas era amor.
Uma das maiores aprendizagens – e dívidas de gratidão – foi a forma como, dessa maneira, nos ajudou a encontrar o Deus que só é Amor e que se expressa numa Misericórdia absoluta. Ao longo de quarenta anos, em todas as estações, em dias de sol e em tempos de grandes tempestades, tivemos sempre a sua presença com um cuidado e uma amizade, que nos mostra esse Deus-Amor. E, tal como nós, milhares de outras pessoas. Esse é o seu grande património: o que muito amou.

O P. António deixa-nos um legado a continuar, pela Fé, pelo Serviço e pelo Amor.

Ficará para sempre o telefone por tocar. Faltará o “posso ir aí jantar?” ou simplesmente “como vai isso?”. Ou ainda a divertida irritação a meio da reunião de CVX. Já não poderemos recorrer a um porto de abrigo que sempre tínhamos. Mas agora, no Céu, há mais alguém que intercederá por nós. Obrigado, P. António.

Francisca Assis Teixeira, Madalena, Marta e Rui Marques
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
João J. Vila-Chã

Não vou dizer o que todos já sabem, a saber, que o Padre António Vaz Pinto, da Companhia de Jesus, morreu. Tinha 80 anos de vida e mais de meio século na Companhia de Jesus. Sim, o Padre António, hoje, deixou definitivamente para trás a vida que temos aqui. Portanto, ele passou para o outro lado da História. E é tudo o que teria para dizer não fosse o meu desejo de acrescentar: que foi este homem, então um ainda relativamente jovem jesuíta, quem Deus colocou no meu caminho e no meio de duríssimas batalhas me ajudou a decidir; que ambos vivemos na mesma comunidade, em Coimbra, e sempre admirei o modo como ele falava de Deus, desafiava crentes e não crentes, ousava pensar em categorias que, embora dentro, pareciam já fora do tempo; que sempre me impressionou a sua capacidade de ação, a sua dedicação aos outros, a sua vontade de construir parcelas de um Reino que não era o seu, mas o de Deus. O p. António Vaz Pinto era um verdadeiro «carácter», um homem cheio de força e muita boa-vontade. Mas também inteligente e destemido. Por vezes, ousado. Como os apóstolos, de uma forma ou de outra, cada um assumindo a sua, têm de ser. Portanto, o p. Vaz Pinto, paradigma de vitalidade e ação na contemplação, partiu desta vida e deixou este nosso mundo. Aparentemente, estamos agora, todos os que o conhecemos, mais pobres, e o mundo sente-se de alguma forma mais caído para o lado do vazio. Mas pela Fé sabemos que não é só assim: o Padre Vaz Pinto vai continuar a ser fonte de inspiração. Possivelmente, também sinal de contradição. Mas uma coisa permanece certa: a Igreja em Portugal precisa de muitas pessoas que o sejam como o foi este homem, que sempre estimei, mesmo quando dele discordei, ou por ele me senti incompreendido, coisa de somenos importância pois ao seu círculo não pertencia quem queria, coisa que eu nunca quis nem precisei; sim, a Igreja em Portugal precisa de homens e mulheres que à imagem de António Vaz Pinto sejam capazes de integrar Ação e Contemplação, Oração e Vida, Pensamento puro e Reflexão concreta. O padre Vaz Pinto vai fazer-nos falta, o que quer dizer uma coisa sobretudo: é chegada, mais uma vez, a hora de assumir o que dele e do seu luminoso testemunho cada um/a ainda tem, ou leva, dentro de si. Naturalmente, para o maior bem da Igreja e da Sociedade de que fazemos parte integrante. E termino, desejando o que deixou de ser preciso, e é isto: que ao nosso caro Padre António Vaz Pinto, como de resto sempre fiz questão de o nomear, o Senhor da Vida conceda já o Prémio que a sua Fé, intensa e diligente, sempre e mais que tudo o levou a esperar e, por Ele, a tanto trabalhar.
Este tributo foi publicado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
Leigos para o Desenvolvimento

Partiu hoje para o Pai, o Pe. António Vaz Pinto, fundador dos Leigos para o Desenvolvimento 

A vida do Pe. António foi uma verdadeira inspiração e apesar da tristeza que hoje sentimos, fica a imensa gratidão pela sua vida e pela obra deixada. Figura incontornável nos LD, sonhou esta missão com alguns jovens universitários, de colocar os dons e talentos ao serviço de populações que necessitassem. Daí nasceu uma obra que já transformou a vida de tantos voluntários e tantas pessoas e comunidades nos países de missão. Os frutos da sua vida são inúmeros e no fim a gratidão por tanto bem recebido ao serviço de Jesus.

Obrigado e Até sempre Pe. António! Continue a cuidar de nós e da nossa missão, agora junto do Pai, no Céu

Pe. António Vaz Pinto, sj
1942-2022
Este tributo foi publicado por Paulo Marques em 1 de julho de 2022
Aqueles que passam por nós não vão sós.
não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós.

Antoine de Saint-Exupéry

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Últimos Tributos
Este tributo foi publicado por Maria Lourenço em 30 de junho de 2023
Não se esqueçam: Nascemos para Ressuscitar!
( palavras repetidas pelo P.António nos últimos EE por ele orientados, de 26 a 29 Maio 2022, no Rodízio, em que participei)

Conheci o P.António , no CUPAV, em 1985. Eu estava no último ano do Curso de Medicina e a partir desta fulcral fase da minha vida, iniciou-se o caminho de Fé acompanhado , ao longo dos anos, pelo testemunho único do P.António.
Muitas e saudosas recordações, nomeadamente: CIF, Encontros Mensais, Serões com..., Viagem à Terra Santa em 1989, Viagem Abraço Ortodoxo em 2018, Conversas pessoais, Exercícios Espirituais, tanto reconhecimento pelo bem recebido e uma incomensurável gratidão!...

Durante a última conversa que tivemos, ocorrida nos EE de 26 a 29 Maio de 2022... e perante a minha inquietação perante a complexidade do mundo e das mulheres e homens que nele vivem...o P.António disse-me:
esta não é a última palavra, o que se sobrepõe a tudo isto é a Esperança na Ressurreição e no Ressuscitado!...

No dia 29 de Maio 2022, após a Missa do final da tarde e dos EE, despedi-me do P.António , com as palavras que repito hoje : Obrigada !!! Até à próxima !

30 de Junho de 2023

Maria Fernanda de Almeida Patrício Lourenço













Este tributo foi publicado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
João Arez

A energia esfuziante que o Pe. António Vaz Pinto entregava a tudo o que fazia e que o consumiu até ao fim da sua vida entre nós, não era fruto de um activismo inato, mas de uma oração discernida:
"em recta intenção, se posso, devo; se devo, quero; se quero, faço confiando na graça de Deus". Cada um destes passos tinha uma pequena check-list. Falámos várias vezes sobre isto.
Este tributo foi publicado por Margarida Mendonça em 4 de julho de 2022
Do P. António, guardo traços diferentes que a mim, particularmente, me tocaram.

O P. António era, há muito, figura pública, mas eu pouco ou nada o conhecia! Um dia, tocou o telefone em minha casa e ouvi o meu marido atender alguém. Após alguns minutos de conversa, passou-me o telefone, pois a pessoa queria também falar comigo.

Identificou-se:
" - Sou o P. António Vaz Pinto. Venho convidá-la para vir integrar a CVX!"
Fui apanhada de surpresa e a minha reacção espontânea soltou-se:
" - CVX? O que é isso? Nem sei o que é nem sei se quero!"
Respondeu determinado:
" - Não sabe? Então, venha ver o que é! Venha no dia x à reunião, no local y, aqui no Porto! Se gostar, fica; se não gostar, vai-se embora!"

Na verdade, nunca tal me sucedera: uma pessoa que não conheço ligar-me com esta desenvoltura para me convidar deste modo!

E, surpreendentemente, lá fui!
E, surpreendentemente também, lá fiquei... até hoje!

Era assim o P. António que comecei a conhecer de perto em 2002 - decidido, pronto a desestabilizar inércias!

Mas, para lá deste desassombro de quem vivia sob uma luz que o conduzia, há ainda outro traço que me impressionou neste homem!

Fiz algumas vezes Exercícios Espirituais orientados por ele.
Pude ver o inimaginável: a transfiguração que o tomava.
Chegava vivo, um homem de relação social desinibida e solta, comunicativo, esfusiante, pronto ainda, entretanto e sempre, "a puxar as orelhas" aos amortecidos...
Ao segundo dia, passando por ele, descobria um outro homem: o primeiro "volatilizara-se"! No rosto, ficara a inocência, o silêncio contemplativo de uma criança embrenhada num mundo só seu... Era verdadeiramente tocado por Deus e a oração transformava-o - o seu olhar revelava-o!

Guardo comigo essa profunda novidade de uma personalidade tão rica, capaz da interpelação mais exigente e incontornável e da mansidão mais fraterna.
Guardo comigo - dele - o modo de ser cristão alegre e sensível, o modo como o Espírito Santo faz, das características únicas de cada um, uma vida de Deus hoje e sempre.

             Margarida Mendonça, CVX Porto
Percurso

Residência de Évora

2019 Passa a viver na Residência de Évora

Igreja de S. Roque e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

2014 - Reitor da Igreja de S. Roque, em Lisboa e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Revista Brotéria

2008 - Diretor da Revista Brotéria
Histórias recentes

Morreu o padre Vaz Pinto, antigo Alto Comissário para as Migrações

Partilhado por Sara Severino em 6 de julho de 2022
In Expresso

António Vaz Pinto, de 80 anos, estava internado desde 8 de junho, devido a um tumor pulmonar.
O padre António Vaz Pinto, jesuíta, que foi Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre os anos 2002 e 2005, morreu esta sexta-feira, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, informou a Companhia de Jesus,

António Vaz Pinto, de 80 anos, estava internado desde 8 de junho, devido a um tumor pulmonar.
O padre António Vaz Pinto, jesuíta, que foi Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre os anos 2002 e 2005, morreu esta sexta-feira, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, informou a Companhia de Jesus,
António Vaz Pinto, de 80 anos, estava internado desde 08 de junho, devido a um tumor pulmonar, acrescentou a Província Portuguesa da Companhia de Jesus, recordando que, “com uma vida cheia e intensa”, o jesuíta “foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de grande impacto apostólico”.

“O padre António Vaz Pinto tinha celebrado há dias os seus 80 anos e, aparentemente, encontrava-se bem, tendo festejado o seu aniversário na companhia de muitos familiares e amigos e num ambiente festivo. Contudo, o seu estado de saúde já era grave e três dias depois acabou por ser encaminhado de Évora, onde residia, para um hospital em Lisboa, tendo o seu estado agravado muito rapidamente”, adianta a nota dos jesuítas publicada no Ponto SJ, portal da Companhia de Jesus.

Natural de Arouca, onde nasceu em 02 de junho de 1942, António Vaz Pinto foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de Jesus, entre as quais se destacam os Leigos para o Desenvolvimento (1986), o Centro São Cirilo (2002), no Porto, e o Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega (1975-1984), em Coimbra, e mais tarde o Centro Universitário Padre António Vieira (1984-1997), em Lisboa.

Foi também reitor da Comunidade Pedro Arrupe, em Braga, onde os jesuítas fazem parte da sua formação, e ainda reitor da Basílica do Sagrado Coração, na Póvoa do Varzim. Dirigiu o Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola, no Porto, foi assistente nacional da Comunidade de Vida Cristã (CVX) e foi também o presidente da direção do Centro Social da Musgueira, em Lisboa.

Em 2008, foi nomeado diretor da Revista Brotéria e mais tarde, em 2014, reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Trabalhou também, durante vários anos, na Rádio Renascença, onde foi assistente entre 1984 e 1997, e colaborou com vários órgãos de comunicação social, acrescenta a Companhia de Jesus.
António Vaz Pinto esteve também na fundação da produtora de conteúdos religiosos Futuro e esteve no projeto inicial da criação da TVI, tendo participou também na criação do Banco Alimentar contra a Fome, em 1992.

Em 30 de janeiro de 2006 foi distinguido pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Grande Oficial Ordem Infante D. Henrique.

Publicou sete livros sobre teologia, filosofia e vida cristã, e dois de memórias, onde conta a história da sua vida.

Dias antes do seu octogésimo aniversário (02 de junho), numa entrevista ao Ponto SJ, o padre António Vaz Pinto confessou-se preparado para morrer, afirmando ter tido “uma vida que valeu a pena viver, com muita alegria e muitos amigos”.

O padre António Vaz Pinto estava, atualmente, e desde 2019, na comunidade dos jesuítas em Évora, onde era Capelão da Santa Casa da Misericórdia.




Padre António Vaz Pinto

Partilhado por Sara Severino em 5 de julho de 2022
In RTP
Por Pedro Rolo Duarte
Parte 1 
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/padre-antonio-vaz-pinto-parte-i/
Primeira parte da entrevista conduzida por Pedro Rolo Duarte a António Vaz Pinto, padre jesuíta, professor, diretor do Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV), capelão da Universidade de Coimbra, assistente da Rádio Renascença, fundador e diretor do Centro Escolar de Apoio a Emigrantes de São Pedro Claver, fundador e membro da direção do "Banco Alimentar e Contra a Fome", sobre as suas convicções, a influência do catolicismo na geração de hoje, o filme "Tentação", de Joaquim Leitão, a religiosidade do Homem e da Igreja.
  • Nome do Programa: Padre António Vaz Pinto
  • Nome da série: Falatório
  • Locais: Lisboa
  • Personalidades: Pedro Rolo Duarte, António Vaz Pinto
  • Temas: Sociedade
  • Canal: RTP 2
  • Tipo de conteúdo: Programa
  • Cor: Cor
  • Som: Mono
  • Relação do aspeto: 4:3 PAL

Parte 2

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/padre-antonio-vaz-pinto-parte-ii/

Parte 3

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/padre-antonio-vaz-pinto-parte-iii/

Homenagem ao Padre António Vaz Pinto

Partilhado por Sara Severino em 5 de julho de 2022
Por Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

A Santa Casa prestou, esta quarta-feira, 4 de setembro, homenagem ao padre António Vaz Pinto pelo serviço prestado enquanto reitor da Igreja de São Roque e Capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

A cerimónia realizou-se nos claustros do Museu de São Roque e contou com a participação do provedor, Edmundo Martinho, e restante Mesa da Santa Casa.

Vários colaboradores da instituição fizeram, igualmente, questão de marcar presença nesta homenagem ao antigo reitor da Igreja de São Roque.

Edmundo Martinho sublinhou, no seu discurso, que “esta comissão de cinco anos à frente da Igreja de São Roque enriqueceu muita a Santa Casa, mas sobretudo enriqueceu-nos muito do ponto de vista intelectual e espiritual”.

“Esta é uma homenagem justíssima”, destacou ainda o provedor, lembrando que “a Santa Casa estará sempre de portas abertas para receber o padre Vaz Pinto”.

Já António Vaz Pinto começou por afirmar que foi “uma honra ter servido esta casa e esta comunidade”. “Foram cinco anos dos quais muito me orgulho e sei que saio daqui mais alegre do que quando cheguei”, reforçou.

O sacerdote jesuíta lembrou ainda alguns episódios da sua comissão de serviço enquanto reitor da Igreja de São Roque e que a “Santa Casa deve continuar a trabalhar com a mesma dedicação e empenho, que a carateriza há séculos, em prol dos mais desfavorecidos”.

O padre António Júlio Trigueiros é o novo reitor da Igreja de São Roque e Capelão da Misericórdia de Lisboa, recebendo assim a passagem de testemunho do padre António Vaz Pinto que tem como novo destino apostólico a comunidade de Évora.

Sobre o padre António Vaz Pinto

De uma família originária de Arouca, o padre António Vaz Pinto, nasceu em Lisboa, em 1942. Em 1965, entrou para o noviciado da Companhia de Jesus em Soutelo (Braga), tendo-se licenciado em Filosofia, em 1970, e em Teologia, em 1975, na Alemanha. Em 1974 foi ordenado sacerdote. Esteve vários anos ligado à Pastoral Universitária em Coimbra e Lisboa, foi Alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, foi diretor da revista Brotéria e reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.