In Memorium
Histórias de Pe. António

Partilhe aquele episódio especial que recorda da vida de Pe. António.

Morreu o padre Vaz Pinto, antigo Alto Comissário para as Migrações

Partilhado por Sara Severino em 6 de julho de 2022
In Expresso

António Vaz Pinto, de 80 anos, estava internado desde 8 de junho, devido a um tumor pulmonar.
O padre António Vaz Pinto, jesuíta, que foi Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre os anos 2002 e 2005, morreu esta sexta-feira, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, informou a Companhia de Jesus,

António Vaz Pinto, de 80 anos, estava internado desde 8 de junho, devido a um tumor pulmonar.
O padre António Vaz Pinto, jesuíta, que foi Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre os anos 2002 e 2005, morreu esta sexta-feira, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, informou a Companhia de Jesus,
António Vaz Pinto, de 80 anos, estava internado desde 08 de junho, devido a um tumor pulmonar, acrescentou a Província Portuguesa da Companhia de Jesus, recordando que, “com uma vida cheia e intensa”, o jesuíta “foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de grande impacto apostólico”.

“O padre António Vaz Pinto tinha celebrado há dias os seus 80 anos e, aparentemente, encontrava-se bem, tendo festejado o seu aniversário na companhia de muitos familiares e amigos e num ambiente festivo. Contudo, o seu estado de saúde já era grave e três dias depois acabou por ser encaminhado de Évora, onde residia, para um hospital em Lisboa, tendo o seu estado agravado muito rapidamente”, adianta a nota dos jesuítas publicada no Ponto SJ, portal da Companhia de Jesus.

Natural de Arouca, onde nasceu em 02 de junho de 1942, António Vaz Pinto foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de Jesus, entre as quais se destacam os Leigos para o Desenvolvimento (1986), o Centro São Cirilo (2002), no Porto, e o Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega (1975-1984), em Coimbra, e mais tarde o Centro Universitário Padre António Vieira (1984-1997), em Lisboa.

Foi também reitor da Comunidade Pedro Arrupe, em Braga, onde os jesuítas fazem parte da sua formação, e ainda reitor da Basílica do Sagrado Coração, na Póvoa do Varzim. Dirigiu o Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola, no Porto, foi assistente nacional da Comunidade de Vida Cristã (CVX) e foi também o presidente da direção do Centro Social da Musgueira, em Lisboa.

Em 2008, foi nomeado diretor da Revista Brotéria e mais tarde, em 2014, reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Trabalhou também, durante vários anos, na Rádio Renascença, onde foi assistente entre 1984 e 1997, e colaborou com vários órgãos de comunicação social, acrescenta a Companhia de Jesus.
António Vaz Pinto esteve também na fundação da produtora de conteúdos religiosos Futuro e esteve no projeto inicial da criação da TVI, tendo participou também na criação do Banco Alimentar contra a Fome, em 1992.

Em 30 de janeiro de 2006 foi distinguido pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Grande Oficial Ordem Infante D. Henrique.

Publicou sete livros sobre teologia, filosofia e vida cristã, e dois de memórias, onde conta a história da sua vida.

Dias antes do seu octogésimo aniversário (02 de junho), numa entrevista ao Ponto SJ, o padre António Vaz Pinto confessou-se preparado para morrer, afirmando ter tido “uma vida que valeu a pena viver, com muita alegria e muitos amigos”.

O padre António Vaz Pinto estava, atualmente, e desde 2019, na comunidade dos jesuítas em Évora, onde era Capelão da Santa Casa da Misericórdia.




Padre António Vaz Pinto

Partilhado por Sara Severino em 5 de julho de 2022
In RTP
Por Pedro Rolo Duarte
Parte 1 
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/padre-antonio-vaz-pinto-parte-i/
Primeira parte da entrevista conduzida por Pedro Rolo Duarte a António Vaz Pinto, padre jesuíta, professor, diretor do Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV), capelão da Universidade de Coimbra, assistente da Rádio Renascença, fundador e diretor do Centro Escolar de Apoio a Emigrantes de São Pedro Claver, fundador e membro da direção do "Banco Alimentar e Contra a Fome", sobre as suas convicções, a influência do catolicismo na geração de hoje, o filme "Tentação", de Joaquim Leitão, a religiosidade do Homem e da Igreja.
  • Nome do Programa: Padre António Vaz Pinto
  • Nome da série: Falatório
  • Locais: Lisboa
  • Personalidades: Pedro Rolo Duarte, António Vaz Pinto
  • Temas: Sociedade
  • Canal: RTP 2
  • Tipo de conteúdo: Programa
  • Cor: Cor
  • Som: Mono
  • Relação do aspeto: 4:3 PAL

Parte 2

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/padre-antonio-vaz-pinto-parte-ii/

Parte 3

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/padre-antonio-vaz-pinto-parte-iii/

Homenagem ao Padre António Vaz Pinto

Partilhado por Sara Severino em 5 de julho de 2022
Por Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

A Santa Casa prestou, esta quarta-feira, 4 de setembro, homenagem ao padre António Vaz Pinto pelo serviço prestado enquanto reitor da Igreja de São Roque e Capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

A cerimónia realizou-se nos claustros do Museu de São Roque e contou com a participação do provedor, Edmundo Martinho, e restante Mesa da Santa Casa.

Vários colaboradores da instituição fizeram, igualmente, questão de marcar presença nesta homenagem ao antigo reitor da Igreja de São Roque.

Edmundo Martinho sublinhou, no seu discurso, que “esta comissão de cinco anos à frente da Igreja de São Roque enriqueceu muita a Santa Casa, mas sobretudo enriqueceu-nos muito do ponto de vista intelectual e espiritual”.

“Esta é uma homenagem justíssima”, destacou ainda o provedor, lembrando que “a Santa Casa estará sempre de portas abertas para receber o padre Vaz Pinto”.

Já António Vaz Pinto começou por afirmar que foi “uma honra ter servido esta casa e esta comunidade”. “Foram cinco anos dos quais muito me orgulho e sei que saio daqui mais alegre do que quando cheguei”, reforçou.

O sacerdote jesuíta lembrou ainda alguns episódios da sua comissão de serviço enquanto reitor da Igreja de São Roque e que a “Santa Casa deve continuar a trabalhar com a mesma dedicação e empenho, que a carateriza há séculos, em prol dos mais desfavorecidos”.

O padre António Júlio Trigueiros é o novo reitor da Igreja de São Roque e Capelão da Misericórdia de Lisboa, recebendo assim a passagem de testemunho do padre António Vaz Pinto que tem como novo destino apostólico a comunidade de Évora.

Sobre o padre António Vaz Pinto

De uma família originária de Arouca, o padre António Vaz Pinto, nasceu em Lisboa, em 1942. Em 1965, entrou para o noviciado da Companhia de Jesus em Soutelo (Braga), tendo-se licenciado em Filosofia, em 1970, e em Teologia, em 1975, na Alemanha. Em 1974 foi ordenado sacerdote. Esteve vários anos ligado à Pastoral Universitária em Coimbra e Lisboa, foi Alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, foi diretor da revista Brotéria e reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.


Padre António Vaz Pinto: inteligência e sentido de humor

Partilhado por Sara Severino em 5 de julho de 2022
In TSF por Raquel Vaz Pinto

Morreu na sexta-feira o Padre António Vaz Pinto. No site dos Jesuítas, o Ponto SJ, o texto que acompanhou a notícia resumia bem a sua vida: "uma vida cheia e intensa." vida cheia e intensa."


Para crentes e não crentes, este Jesuíta foi, entre tantas coisas, uma voz doce e serena na rádio a fazer-nos reflectir ao longo de tantos anos ou o Alto-Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas.

Como lembrar o Padre António? Eu gostaria de destacar duas características: sentido de humor e inteligência.

Ouça o comentário de Raquel Vaz Pinto.
O Padre António, tal como os seus irmãos, incluindo o meu sogro Gonçalo, adorava partilhar uma boa história e uma boa gargalhada. Perdi a conta ao número de vezes que me fizeram rir.

Em segundo lugar, a sua inteligência e vontade de debater de forma fundamentada.

Converti-me ao Catolicismo em adulta fiz todo o percurso até ao baptismo com ele. E, se me pedissem para escolher apenas uma memória sua seria, sem dúvida, a memória daquela nossa primeira conversa formal, o meu pontapé de saída.
Ora bem, para preparar a dita primeira conversa formal o Padre António indicou-me várias leituras. Na verdade, a conversa inicial só faria sentido quando eu tivesse muitas dúvidas. Para quem gosta de estudar como eu foi ouro sobre azul. Mergulhei por completo e fui muito, mas muito mais além.

Nessa conversa o Padre António começou por perguntar quais eram os meus comentários e as minhas dúvidas. Peguei na minha Bíblia, coloquei-a em cima da mesa e os post-its eram tantos e tão coloridos, que quase não se via o papel. Dei início às hostilidades.

Muitos provavelmente teriam esmorecido com a quantidade e a intensidade das minhas perguntas. Mas não o Padre António. Sorriu e disse-me "vamos a isto!"

Ter prazer em debater ouvindo o outro, ter prazer em não fugir dos temas difíceis é, hoje em dia, uma qualidade que nos faz muita falta.

A Igreja do Padre António

Partilhado por Sara Severino em 5 de julho de 2022
Por Inês Teotónio Pereira
In Observador
Dizia o padre António que só precisava de 15 minutos para se habituar a uma nova morada; pois nós aqui em baixo vamos precisar de muito mais tempo para nos habituar à sua nova morada.
Não nos conhecemos novos: nem eu era nova e já ele estava quase a completar os 70 quando cruzamos caminhos. Por isso, não assisti a nenhum dos feitos que o tornaram na pessoa pública que foi, não participei na construção das obras notáveis que todos conhecem e nem me aventurei em nenhuma das viagens históricas que ele liderava ano após ano com rigor e pontualidade.
“Padre António, sente-se aqui à frente”, pedi-lhe, enquanto abria a porta do carro com todo o cerimonial. “Era o que faltava! Isso era antes do Vaticano II, na altura do clericalismo: vais tu à frente porque quem vai a guiar é o teu marido e o carro não é meu”. O padre António ensinou-me Igreja, mostrou-me Cristo, disse-me que um Santo é um pecador que não desiste.

“Vocês repararam que os jacarandás já floriram? Lisboa fica linda nesta altura do ano”. Sempre que os jacarandás estão floridos, lembro-me do padre António Vaz Pinto. Ensinou-me a apreciar a beleza das acções humanas em cada história que contava, porque cada história era simples e exemplar ou era alegre, tal como deve ser a Igreja. “Se eu já contei esta história, vocês avisem-me. Não quero estar a maçar e não façam cerimónia em interromper-me!”. Era uma ordem. Mas não havia nada melhor do que ouvir aquelas histórias sem nomes, só de lições e de piadas.

Ensinou-me que ser Igreja é ser alegre. O rosto de Cristo não é um rosto macambuzio, triste, desiludido, franzido. E cada cristão é o rosto de Cristo no mundo. Era tudo claríssimo dito por ele, explicado por ele. “Estou a ser claro?”

Aos seus olhos, no seu coração, a esperança nos homens e no mundo era quase infinita. Era a que Deus quisesse e que ele, todos os dias, devia rezar para manter viva, apesar das guerras, da miséria, das desilusões, da maldade que teimavam em tentar derruba-lo. Mas valia sempre a pena mais um esforço pelo outro, por uma causa, por um objectivo; porque o desanimo, o pessimismo, o desespero era o contrário do bem, de Deus, – ensinou-me ele.

Ensinou-me Cristo. Mostrou-me em cada Evangelho a misericórdia e a paciência de Cristo e como isso me ajudou a ser mãe, a crescer na Fé. Em tantas explicações sobre as Escrituras, revelou-me a sua intransigência e rigor no Bem, na sua amizade com Cristo. Assim como a sua displicência e tristeza silenciosa por tudo o que divide os homens. Nunca lhe vi cinismo, sarcasmo – coisas que os homens intrinsecamente bons não reconhecem, nem em si nem nos outros.

Também não perdia tempo, nem desperdiçava talentos, não deitava fora as dádivas de Deus: oferecia, fazia, conhecia, lia, partilhava. Até ao último folego. E desafiava. Desafiava a fazer, a dar, a ler, a conhecer, a partilhar. “Sabem porque é que os países da África subsariana se desenvolveram mais tarde do que os países do Norte de África?” Foi a última vez que estivemos juntos. Fizemos mais de dez tentativas mas ninguém acertou. “Vou convidar o Paulo Portas e o Jaime Nogueira Pinto para jantar e descobrir se eles sabem”.

O padre António era Igreja. A Igreja do Papa Francisco, do Papa Bento XVI, a Igreja das periferias, da amizade com Jesus, a Igreja que procura Cristo em todas as coisas, que é intransigente na procura do bem e implacável com o mal. Uma Igreja de esperança e sábia; humilde em Cristo; fiel à tradição e ao rigor da sua História.

Dizia o padre António que só precisava de 15 minutos para se habituar a uma nova morada; pois nós aqui em baixo vamos precisar de muito mais tempo para nos habituar à sua nova morada.



Entrevista a .SJ - Jesuítas em Portugal

Partilhado por Sara Severino em 5 de julho de 2022

«Eu não me compreendo na minha vida sem a Fé»

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
In Família Cristã
01.07.2022

Em 2018, o Pe. António Vaz Pinto, que faleceu hoje, dia 1 de julho, aos 80 anos, concedeu uma entrevista à revista Síntese, por ocasião da edição do seu livro Iniciação à Fé cristã, da PAULUS Editora. Por ocasião da sua morte, relembramos aqui o testemunho do sacerdote que deixa uma obra social e apostólica tão grande que levou a que, a 30 de janeiro de 2006, tivesse sido distinguido pelo presidente da República, Jorge Sampaio, com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

É um homem de grandes obras. Como tem conseguido conciliar tudo na sua vida?
Primeiro que tudo, eu gosto muito de responder às necessidades. Este é o meu critério básico. “Se podes deves, se deves faz” é o que costumo dizer a todos. Estive na fundação do Banco Alimentar Contra a Fome, dos Leigos para o Desenvolvimento, do Centro S. Cirilo para apoio aos refugiados no Porto, e mais algumas coisas. Há a preocupação de responder a necessidades, e tenho uma boa capacidade de escolher os meus colaboradores e delegar. Vou controlando, vendo as coisas, tomando conhecimento, fui alto-comissário para a Imigração, e só foi possível com uma boa equipa, ideias claras e uma liderança forte.

Esta obra, Iniciação à fé cristã, denota essa experiência...
Sim, mas muito concreta. Em Coimbra, imensa gente vinha ter connosco com grandes dúvidas de fé e vida cristã, e reparámos que as dúvidas eram comuns, a maior parte delas. E, portanto, começámos a ter esta ideia de juntar as pessoas, crentes, não-crentes e duvidosas, num fim de semana onde pudessem pôr todas as suas dúvidas e dificuldades, e a partir daí ir respondendo num curso muito intenso de um fim de semana. E é esta a história do CIF – Curso de Iniciação à Fé, que acabou por se consolidar nisto. Tenho dado estes cursos, mas já tinha este sonho de pegar nos esquemas e sintetizar tudo em livro para quem queira compreender melhor a sua própria Fé.

Portanto, a Fé aprende-se?
A Fé aprende-se, não se vive de rendimentos. A Fé pode ser como uma pessoa que nasce muito rica, mas se não tratar dos seus bens pode ficar na miséria. E é muitas vezes isso que acontece. Há muitas pessoas descrentes que são descrentes porque, primeiro, tiveram uma má catequese, e a catequese é deficiente em geral, porque apanha uma altura da vida muito infantil. Não há uma catequese adequada para uma pessoa que faça o ensino secundário e a universidade. Há um desfasamento enorme entre o seu nível cultural e o seu nível religioso, e isso não pode deixar de provocar cisões e dúvidas; depois, a pessoa foi educada na Fé, teve alguma prática de Fé, mas abandona porque as coisas deixam de fazer sentido. O problema não é da Revelação, é da nossa atitude pessoal.

Considerar uma iniciação à Fé de uma forma condensada é bom, porque hoje há falta de tempo para tudo...
Exatamente. Claro que isto não é uma lavagem ao cérebro, são linhas que mostram como a Fé tem coerência e como responde às grandes questões do Homem. É normalíssimo que a pessoa tenha vontade de aprofundar mais depois de ler isto, nomeadamente algum assunto mais específico, como os sacramentos ou a transmissão de fé. Este livro é um “abrir de estrada” para que as pessoas possam escolher, compreender, procurar e encontrar mais aprofundadamente.

O Homem ainda procura Deus?
Procura sempre, embora essa procura possa ter aspetos diferentes. Nós vivíamos todos em sociedades mais religiosas onde a problemática de Deus se punha expressamente. Isso hoje já não se consegue, o homem deste século é secularizado, mas a procura de Deus está implícita na procura da justiça, da realização própria, da Verdade, do Bem, está lá.

E com os descrentes, como abordar esta questão?

Há vários tipos de descrentes: a pessoa que não quer crer, que se fecha, e com essas nada se pode fazer a não ser respeitar. Não creio que sejam muitas as pessoas nesta atitude. Há muitas pessoas de outras religiões, descrentes do Cristianismo, mas que procuram a Verdade e o Bem. Na medida em que procuram a Verdade e o Bem, sem o saberem, já estão captadas por Jesus Cristo, e salvam-se indiretamente, porque a primeira de todas as normas religiosas, antes de tudo, é a fidelidade à nossa consciência. Quem segue a sua consciência, na Verdade e no Bem, está em Jesus Cristo, mesmo que não o saiba.

Mas a Fé também não pode ser algo remetido para a dimensão privada...
De maneira nenhuma! Claro que tem uma dimensão privada, mas a coisa mais natural é que as pessoas que partilham a mesma Fé se associem, chamemos-lhe Igreja, e estejam a fecundar a sociedade onde estão. A Fé tem uma expressão societária, e encurralar a Fé na liturgia e na oração pessoal é tirar-lhe os braços.


O que é que a Fé tem trazido ao Pe. Vaz Pinto até aos dias de hoje?

Eu não me compreendo na minha vida sem a Fé. A Fé transforma-se na coisa mais importante da condição humana, que é a confiança. Nós precisamos de confiança. Uns confiam no dinheiro, outros na saúde, outros nos amigos, outros na inteligência. São tudo formas da pessoa ser livre, embora muitas sejam ilusórias, como estas que apontei. Na medida em que Deus está na minha vida, confio n’Ele, no seu Amor, no seu projeto para mim e para tantos outros, ganho esta confiança fundamental, que me permite continuar a viver com alegria, anunciar a Boa Nova, fazer aquilo que julgo estar nas minhas mãos para que outros O encontrem e possam experimentar a confiança que eu também experimento.

Texto: Pe. José Carlos Nunes
Fotos: Rita Bruno

O tempo da Igreja e o tempo dos homens

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
Jornal O Ericeira

Faleceu o Padre Vaz Pinto, padre jesuíta, com a idade de oitenta anos, um dos grandes pensadores da Igreja Católica Portuguesa, de que me recordo bem duma conferência que proferiu aos alunos da AM, nos idos anos do início da década de oitenta do século passado, onde numa resposta a uma pergunta que lhe fiz, muito marcou a minha forma de ver o mundo.

Questionei-o acerca do para mim evidente, na altura, desfasamento entre a postura conservadora do Papa João Paulo II, que considerava anacrónica naqueles tempos, e obtive como resposta que o tempo de Deus e da Igreja, não é coincidente com o tempo dos homens, que é efêmero, e que outros papas viriam, uns menos conservadores, outros mais conservadores, mas que os princípios e os dogmas da Igreja, esses eram e seriam sempre imutáveis ao longo dos tempos.

Esta resposta foi e ainda hoje me é muito útil, principalmente quando tento analisar sociedades e civilizações diferentes da nossa, como é o caso da chinesa, em que o tempo também tem outra dimensão, muito diferente do da sociedade Ocidental.

Bem-haja Padre Vaz Pinto, por me ter ensinado a pensar estrategicamente.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

FLASH - Morreu o padre António Vaz Pinto, antigo Alto Comissário para as Migrações

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
HOMENAGEM

Padre jesuíta morreu esta sexta-feira, 01, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, na sequência de um tumor pulmonar. Tinha 80 anos.
O padre António Vaz Pinto, jesuíta e alto comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre os anos 2002 e 2005 morreu esta sexta-feira, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, de acordo com informação da Companhia de Jesus.

António Vaz Pinto tinha 80 anos de idade e estava internado desde o dia 8 de junho, devido a um tumor pulmonar. Comunicado da Província Portuguesa da Companhia de Jesus recordou ainda que o religioso teve "uma vida cheia e intensa" e que "foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de grande impacto apostólico".

"O padre António Vaz Pinto tinha celebrado há dias os seus 80 anos e, aparentemente, encontrava-se bem, tendo festejado o seu aniversário na companhia de muitos familiares e amigos e num ambiente festivo. Contudo, o seu estado de saúde já era grave e três dias depois acabou por ser encaminhado de Évora, onde residia, para um hospital em Lisboa, tendo o seu estado agravado muito rapidamente", descreve a nota dos jesuítas publicada no Ponto SJ, portal da Companhia de Jesus.
António Vaz Pinto nasceu em Arouca a 2 de junho de 1942 e foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de Jesus.

Padre António Vaz Pinto: «Uma vida que aconteceu a partir de Deus», afirmou D. Manuel Clemente

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
04.07.2022

Cardeal-patriarca presidiu à Missa exequial do sacerdote jesuíta e destacou as suas «imensas qualidades»

Lisboa, 04 jul 2022 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa presidiu hoje à Missa exequial do padre António Vaz Pinto, que faleceu no dia 1 de julho, e afirmou que o seu percurso de vida se distinguiu por “imensas qualidades humanas” vividas “a partir de Deus”.

“Todas as imensas qualidades que ele transbordava não teriam a eficácia que tiveram se as não tivesse vivido a partir de Deus”, afirmou D. Manuel Clemente na homilia da Missa, na Igreja do Colégio de São João de Brito, em Lisboa.

A Missa exequial do padre António Vaz Pinto, que faleceu aos 80 anos, foi concelebrada por sacerdotes jesuítas, de outras congregações religiosas e do Patriarcado de Lisboa e por muitos leigos que participaram e continuam os projetos que o sacerdote ajudou a criar ou em atividades pastorais que orientou.

Durante a Missa, no momento da oração universal, vários leigos evocaram alguns dos projetos em que esteve envolvido, nomeadamente na fundação, como o Banco Alimentar Contra a Fome, os Leigos para o Desenvolvimento, os centros universitários dos jesuítas, o Alto Comissariado para as Migrações.

O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou que as obras em que esteve envolvido deram ao padre António Vaz Pinto uma “projeção imensa”, fruto da sua “capacidade de viver e conviver”, de “compreender as coisas”, de “estar em todo o lado com uma atitude pró-ativa” e de outras qualidades humanas que foram “vividas a partir de Deus, não da sua vontade”.

Para D. Manuel Clemente, o padre António Vaz Pinto viveu “uma vida descentrada de si e porque concentrada em Deus e a partir de Deus aconteceu”.

Após a Missa exequial, o corpo do padre António Vaz Pinto foi a sepultar no Cemitério do Lumiar, em Lisboa.
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O sacerdote jesuíta António Vaz Pinto faleceu no dia 1 de julho aos 80 anos de idade, na sequência de doença prolongada, tendo-se destacado por diferentes missões pastorais e sociais, nomeadamente a coordenação do Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas e a criação dos ‘Leigos para o Desenvolvimento’ e do Banco Alimentar Contra a Fome.

Nascido em Lisboa, a 2 de junho de 1942, António Vaz Pinto entrou para a Companhia de Jesus em 1965; foi ordenado padre em 1974, “tendo dedicado grande parte da sua vida à formação cristã e espiritual dos universitários e ao acompanhamento de vários grupos”.

Entre 1998 e 2005 foi assistente nacional da Comunidade de Vida Cristã (CVX) e, em 2008, foi nomeado diretor da Revista ‘Brotéria’; trabalhou também, durante vários anos, na Rádio Renascença, onde foi assistente entre 1984 e 1997, colaborando com vários órgãos de comunicação social, incluindo a ECCLESIA.

A 30 de janeiro de 2006 foi distinguido pelo presidente da República, Jorge Sampaio, com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

O sacerdote jesuíta faleceu, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde estava internado desde o dia 8 de junho, na sequência de um tumor pulmonar.


Padre Vaz Pinto: Marcelo recorda sacerdote como "arauto inspirador de causas"

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
In Observador - 01.07.2022
Agência Lusa Texto

Padre Vaz Pinto: Marcelo recorda sacerdote como "arauto inspirador de causas"Marcelo Rebelo de Sousa recorda Padre Vaz Pinto como "um homem de raras qualidades humanas e vocacionais" e "uma das figuras da Igreja Católica mais marcantes dos anos 1970 até ao virar do século".

O Presidente da República recordou o padre António Vaz Pinto, que morreu esta sexta-feira, como um “arauto inspirador de causas e missões comunitárias” que tinha o “poder de mobilização dos jovens” e raras qualidades humanas.

Numa nota divulgada na página oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa evoca António Vaz Pinto, um homem “de raras qualidades humanas e vocacionais”, com um “poder de mobilização dos jovens” que “dele fez um arauto inspirador de causas e missões comunitária.

O sacerdote foi “uma das figuras da Igreja Católica mais marcantes dos anos 1970 até ao virar do século”, acrescenta o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa, “seu amigo e admirador desde sempre, recorda-o com profunda homenagem e saudade e apresenta à sua Família e à Companhia de Jesus as suas sentidas condolências”, completa na nota.

O padre António Vaz Pinto, jesuíta e Alto-Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre os anos 2002 e 2005 morreu esta sexta-feira, aos 80 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, informou a Companhia de Jesus.

Natural de Arouca, onde nasceu em 02 de junho de 1942, António Vaz Pinto foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de Jesus, entre as quais se destacam os Leigos para o Desenvolvimento (1986), o Centro São Cirilo (2002), no Porto, e o Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega (1975-1984), em Coimbra, e mais tarde o Centro Universitário Padre António Vieira (1984-1997), em Lisboa.

Por Manuel Braga da Cruz

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
In Observador - 04.07.2022

Contemplativo na acçãoTive sobretudo o privilégio de ser amigo de António Vaz Pinto. Era visita de casa, frequente e caloroso, com quem discutíamos as questões da Igreja, da Universidade, da Política, da Cultura portuguesa

Era assim que S. Inácio queria os jesuítas. Foi assim que, ao longo da história, se caracterizaram. Foi assim que foi o P. António Vaz Pinto, que acaba de falecer com 80 anos.

A sua vida foi uma sucessão de iniciativas notáveis que, se deixaram a sua marca pessoal, prosseguiram sem ele. O seu activismo impressionante, criador de obras extraordinárias, radicava numa grande paixão pela maior glória de Deus, pela Igreja.

Inteligente e culto, não se entregou à vida intelectual. Era um “intelectual orgânico”. Estudava e lia  o suficiente para poder fecundar a sua acção apostólica. Seguia a vida cultural e política do país, procurando marcá-las a partir de fora, do ponto de vista religioso.

Ordenado em 1974, regressado ao país depois dos estudos de teologia na Alemanha, começou a sua vida criando Centros Universitários (primeiro em Coimbra depois em Lisboa) e organizando o Forum Estudante. Reunia estudantes e professores, católicos e não-católicos, para debater problemas da Universidade e da sociedade. Nisto se descortina uma intuição jesuitica: não só a formação da juventude, como também a percepção da importância das elites e seu efeito multiplicador do ponto de vista intelectual e moral. António Vaz Pinto foi um típico jesuíta, que assumiu e integrou a espiritualidade inaciana, mas também a compreensão das estratégias mais fecundas de evangelização. Começou por cima, pela formação dos líderes, pela pastoral da cultura e da inteligência.

Não deixou, no entanto, de se preocupar com os pobres e deserdados. A sua consciência social levou-o a cuidar dos que tinham fome, dos que precisavam de ser estimulados para o desenvolvimento, dos refugiados. Ajudou a criar o Banco Alimentar contra a Fome, onde o seu nome permanece como memória de gratidão; lançou os Leigos para o Desenvolvimento, levando dezenas e dezenas de jovens portugueses a países sub-desenvolvidos, em permanências suficientemente prolongadas para tornar eficaz a intervenção; criou o Centro de S. Cirilo no Porto, para apoio aos refugiados. Aceitou ser Alto Comissário para as Migrações, não por ambição, mas unicamente por serviço. Colaborou com a Fundação Pro Dignitate de Maria Barroso, para promover o apoio a povos sub-desenvolvidos. Nisto foi um jesuíta moderno: aliou a intervenção junto das elites com a preocupação activa e criadora pelos mais fracos e necessitados.

Tinha consciência das suas raízes: quer as familiares, quer as religiosas.

Orgulhava-se da longa tradição familiar a que pertencia, quer do lado paterno (Vaz Pinto) quer do lado materno (Castro). Acumulava em si um enorme capital cultural e moral, que faziam dele uma personalidade superior, que lhe emprestava uma autoridade amplamente reconhecida. Escreveu um livro sobre a Casa do Burgo em Arouca, para compreender e divulgar as raízes familiares genealógicas de Vila Meã do Burgo. E falava do grande Bispo de Coimbra Bastos Pina, confessor da Rainha D. Amélia, seu tio materno, e de Eugénio de Castro – grande poeta simbolista – seu avô materno.

Orgulhava-se igualmente da tradição jesuítica a que pertencia e a que dava continuidade. Celebrou a sua primeira missa na Igreja de S. Roque, que foi da Casa Professa dos jesuítas antes da expulsão pombalina. Foi ali que, durante anos, celebrou aos domingos, reunindo numa comunidade muitos que nele encontravam um ponto de referência espiritual. A sua era uma catequese jesuítica, culta, fundamentada, prospectiva para o mundo que era preciso evangelizar. Falava da história da Companhia de Jesus com entusiasmo, e procurava dá-la a conhecer, não apenas em termos teóricos, mas também práticos. Levou muitos às Reduções do Paraguai, onde os jesuítas escreveram uma das páginas mais gloriosas da sua história. Tive o privilégio de com ele co-organizar um colóquio comemorativo do centenário de Suarez, sepultado em S. Roque, precisamente quando ele era capelão da Santa Casa da Misericórdia a quem pertence a Igreja.

Aceitava os desafios da modernidade, percebendo a necessidade de novos meios para transmitir a mensagem. Assistente da Radio Renascença, envolveu-se  no lançamento da TVI.

Sabia que para evangelizar o mundo era preciso aproximar-se dele, desafiá-lo, provocá-lo. Por isso aceitou o meu convite para participar  no colóquio “Entre fé e laicidade”, com painéis de confronto entre laicos laureados internacionalmente (Saramago, Siza Vieiras, João Lobo Antunes[1]), e jesuítas. Coube-lhe discutir com Saramago. Na memorável abertura entre Mário Soares e D. José Policarpo, o auditório do S. João de Brito, estava a transbordar, tendo ficado de fora, a assistir por écrans, outros tantos interessados.

Era um inaciano puro, que fazia dos Exercícios Espirituais a actividade mais importante da sua vida. Centenas de pessoas fizeram com ele exercícios espirituais, nas mais variadas casas de retiros, desde Soutelo (no Norte) até ao Rodízio (na Praia Grande) ou Palmela. A par dos Exercícios, dava “cursos de iniciação à fé”, para descrentes e crentes pouco conscientes.

Foi assistente espiritual de um grupo de reflexão que, entre amigos, constituímos. Acompanhou-nos no início e no fim, quando esteve em Lisboa.

De grande poder de iniciativa, e com uma invulgar capacidade de empreender, deixou inúmeras obras: os centros universitários de Coimbra e de Lisboa, o Forum Estudante, o Banco Alimentar contra a Fome, os Leigos para o Desenvolvimento, o Centro S. Cirilo para os refugiados no Porto. Na sua mente fervilhava um turbilhão de ideias, pelas quais queria realizar a “maior glória de Deus” no mundo.

Deixou dois livros de memórias, que titulou como História de Deus comigo, onde não hesita em dar-se a conhecer, até interiormente. Não conheço memórias pessoais de jesuítas, apenas relatos de actividades, cartas ánuas. Há, porém, uma excepção: o próprio S. Inácio, que ditou ao P. Gonçalves da Câmara a sua autobiografia.

Quando, já internado, lhe mandei uma mensagem elogiando com entusiasmo o segundo volume das Memórias História de Deus comigo, telefonou-me duas vezes do Hospital em que fora internado. Queria perceber porque é que o que deixara escrito era “fantástico”, como eu lhe dizia. Tive ocasião de lhe lembrar que seguira o exemplo de S. Inácio.

Tive o privilégio de ser seu colaborador em inúmeras iniciativas. Entre outras, a constituição de um grupo de apoio à sua nomeação como assessor da Conferência Episcopal, juntamente com Maria José Nogueira Pinto, Francisco Sarsfield Cabral e Guilherme Oliveira Martins, e ainda o Conselho de Redação da Brotéria.

Sobretudo, tive o privilégio de ser seu amigo. Era visita de casa, frequente e caloroso, com quem discutíamos as questões da Igreja, da Universidade, da Política, e da Cultura portuguesa. Deu a primeira comunhão a um filho meu; casou-me outro. Em momentos importantes da nossa vida familiar estava connosco, como se fosse um de nós. Aparecia sem avisar, porque era íntimo. Com ele, parte também algo de nós e da nossa história.


[1] João Lobo Antunes perguntou com graça, ao iniciar o seu debate com Luis Archer, porque o haviam “colocado entre os ímpios”.

Por Ponto SJ

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
Celebrações fúnebres do P. António Vaz Pinto, falecido na sexta-feira, foram marcadas pela comoção e pela gratidão por uma vida marcada por uma energia e entusiasmo contagiantes que tocaram tantas vidas e geraram tantos frutos.


Entusiasmo. Foi esta a palavra que mais se ouviu ao longo dos quatro dias que marcaram as celebrações fúnebres do P. António Vaz Pinto, falecido na sexta-feira e cujo funeral se realizou esta manhã em Lisboa. Aos microfones ou em conversas particulares, todos os que com ele partilharam a sua história ao longo de 80 anos sublinharam a alegria e a energia contagiantes do jesuíta que foi responsável pela criação e implementação de várias obras de enorme relevância apostólica e que ainda hoje marcam a dinâmica pastoral da nossa Província. Por isso, apesar do sentimento de “orfandade espiritual” sentido com a sua morte, como sublinhou o P. Provincial, foram dias de grande comoção e simultânea alegria, marcados por muitos risos e lágrimas, pela memória de muitas histórias, e por uma enorme gratidão por tanto bem feito a tanta gente. De Lisboa a Braga, passando por Coimbra, onde iniciou a sua fervorosa vida pastoral, pelo Porto e por Évora, onde residia atualmente, foram milhares as pessoas que marcaram presença nas várias eucaristias de ação de graças realizadas.

O álbum de memórias do P. António foi aberto pelo P. Vasco Pinto de Magalhães, seu amigo de infância e companheiro jesuíta desde o primeiro dia de Noviciado, que na homilia da missa de corpo presente, realizada no domingo à noite na Igreja do Colégio São João de Brito, em Lisboa, lembrou vários momentos da longa vida do P. António. O amigo Vasco recordou o António dos bancos da escola, com ainda 10 anos, o António que vinha visitar os pais a Lisboa, já jesuíta, e o António das discussões teológicas ao pequeno almoço, em Coimbra, onde juntamente com o P. Alberto Brito e o próprio P. Vasco se lançaram na aventura de criar um centro universitário. Emocionado com estas recordações e comovido com o luto que diz ter começado a fazer no dia 3 de junho, no final da celebração dos 80 anos do amigo, o P. Vasco recordou outros momentos relevantes da vida de ambos, e alguns decisivos para a história da Companhia em Portugal, como a reunião com o P. Arrupe em Roma onde foram apresentar o projeto dos centros universitários e do P. Geral ouviram as seguintes palavras: “é mesmo isso, é por aí o futuro, o caminho, agora inventem”.

Entres os vários “slides” partilhados pelo P. Vasco com os que vieram despedir-se do P.  António constava uma imagem bastante recente, o do momento em que o P. António rezou a oração de Santo Inácio, na missa dos seus 80 anos, precisamente um mês antes, no dia 3 de junho. “Foi ao rezar o seu ´Tomai Senhor e recebei’ que ele fechou o livro da sua vida”, afirmou, emocionado, sublinhando, contudo, que o amigo António não partiu deste mundo, apenas chegou ao santuário, ao seu destino, como se de uma peregrinação se tratasse. Ainda nesta comovente celebração, também o P. Provincial sublinhou que o P. António “chegou ao reino que andou a construir”, afirmando ainda que a sua grande virtude era não ter vergonha de mostrar os seus defeitos. O P. Miguel Almeida contou ainda algumas conversas com o P. António já nesta fase final da sua doença, confidenciando que este sabia claramente o estado da sua saúde, mas que lidou com a situação com enorme naturalidade e serenidade até ao fim.

No final da missa, marcada pela presença de tantos amigos e familiares, Pedro Vaz Pinto, irmão do P. António, lembrou o sorriso desarmante e encantador do irmão, mas também as suas impaciências e irritações, em nada comparáveis com as suas virtudes e a sua energia contagiante.

“A morte é a porta da ressurreição”

Na primeira eucaristia celebrada em ação de graças pela vida do jesuíta falecido, na sexta-feira ao final do dia, na Igreja de São Roque, em Lisboa, o P. António Júlio Trigueiros também realçou a enorme serenidade com que o P. António Vaz Pinto encarava a morte. Parafraseando as suas palavras na última entrevista que deu ao Ponto SJ, em finais de maio, o reitor da Igreja de São Roque, que sucedeu ao P. António nesta missão, sublinhou ainda a sua enorme fé na ressurreição: “Nessa entrevista, disse: ‘A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de 15 minutos, é só mudar de casa”. Nessa primeira celebração que encheu esta emblemática igreja para a história da Companhia de Jesus esteve presente o Presidente da República, que numa mensagem evocativa no site da Presidência lembrou as “raras qualidades humanas e vocacionais, o seu poder de mobilização dos jovens dele fez um arauto inspirador de causas e missões comunitárias”. Reconhecendo ser seu amigo e admirador desde sempre, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o P. António com profunda homenagem e saudade.

No sábado ao final do dia, as recordações do P. António vieram a público pelo P. Fernando Ribeiro, seu superior na comunidade de Évora, onde atualmente vivia, e que com ele partilhou os últimos momentos da sua vida, antes de entrar no hospital. Na celebração da eucaristia de ação de graças, o companheiro jesuíta reforçou a enorme tranquilidade com que o P. António encarava a morte e a sua profunda fé na ressurreição e na vida eterna. Nesta missa, também os Leigos para o Desenvolvimento expressaram a sua gratidão para com o seu fundador, numas palavras agradecidas onde lembraram a sua entrega profunda à missão e a boa disposição contagiante.

Já esta manhã, na missa exequial, o cardeal patriarca de Lisboa realçou as imensas qualidades humanas do P. António, considerando que estas não teriam tido eficácia se ele não as tivesse vivido a partir de Deus. “A vida vivida em Deus abre-nos uma capacitação imprevisível. O P. António teve uma vida descentrada de si próprio, e esta realidade é que faz com que as coisas se eternizem”, afirmou D. Manuel Clemente, lembrando as obras erguidas e criadas pelo jesuíta, como os centros universitários de Coimbra e Lisboa, o Banco Alimentar contra a Fome, o Centro São Cirilo, os Leigos para o Desenvolvimento ou aquelas em que colaborou, como o Alto Comissariado para as Migrações.

As celebrações de ação de graças pela vida do P. António Vaz Pinto prosseguirão nos próximos dias, estando previstas duas missas de sétimo dia: a primeira na quarta-feira às 19h na Igreja de São Roque, em Lisboa, e a segunda em Évora, na Igreja da Misericórdia, na quinta-feira, às 19h15, que será presidida pelo arcebispo D. Francisco Senra Coelho.



Por Margarida Reduto

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
O P. António é para mim o abrir da porta da história de Deus comigo.

Por CUPAV - Centro Universitário Padre António Vieira

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
Agradecemos a Deus a vida do P. António Vaz Pinto.
Nesta manhã, dia 1 de Julho, partiu para junto do Pai o nosso querido P. António. 
Há 37 anos, o P. António fundou o CUPAV e dedicou assim, a maior parte da sua vida, à formação e acompanhamento dos universitários que passaram por esta casa. Fundou e acompanhou várias obras sociais e projetos, tais como o Banco Alimentar contra a Fome, os Leigos para o Desenvolvimento, o Fórum Estudante, a produtora Futuro, entre muitas outras. 
Acima de tudo, anunciou o Evangelho com a sua vida e marcou a vida de cada pessoa com quem se cruzou. 
Unimos-nos à sua família, aos seus amigos e a toda a família inaciana, em oração, dando graças pela vida do P. António e pelo enorme legado e testemunho que nos deixa.
Confiantes que está em paz junto de Deus, neste momento de dor, consolam-nos as palavras que nos deixou numa entrevista recente ao PontoSJ:
“A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de um quarto de hora. É só mudar de casa”.
Obrigado e até já P. António!

Por Lena Areosa

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
Até sempre Padre Antonio Vaz Pinto, S.J. (n. 02/06/1942 - f. 01/07/2022). Grata pelo muito que de si me deu, testemunhou e acrescentou à minha vida. Certa de que já chegou ao colo de DEUS, envio-lhe um abraço até ao CÉU. P.S.: Não esquecerei as nossas saudáveis discussões sobre a existência ou não do Diabo - que me conseguiu convencer e provar que existe - quando me ditava, de memória, o que ficou plasmado num dos dois volumes "Ateísmo" e "Revelação e Fé", que escreveu; as entrevistas que me concedeu na entretanto extinta Rádio Renascença - Voz do Minho, sobre os projectos e acções no terreno da ONG Leigos para o Desenvolvimento, e outros assuntos; os trabalhos que organizámos em conjunto, os CABaqueando, os Encontros Mensais, a CVX-P, os CIF, a Peregrinação a Fátima, a pé, e outras; as Eucaristias no CAB, na Comunidade Pedro Arrupe, na Basílica dos Congregados, os Arte e Fé; tanta coisa em tanto dom, serviço, missão e dádiva Aquele a quem se entregou e por quem deu a Vida. A Árvore Genealógica da sua família que o ajudei a fazer, com imenso gozo, o Manual do Peregrino... Aquela viagem a Fátima em que parámos para almoçar numa Estação de Serviço e procurámos o canto mais escondido do restaurante, para que fosse poupado às multidões, no instante da refeição. Tanto feito e tanto bem, com energia, fé e uma inteligência rara. As confidências, que guardarei para sempre em mim.
Descanse em Paz, Padre António. Até breve!

Por CUMN - Centro Universitário Manuel da Nóbrega

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
Agradecemos a vida do P. António Vaz Pinto, um dos fundadores do CUMN, que partiu para o Pai esta madrugada.
Sábado, dia 2, será celebrada Eucaristia de ação de graças pela sua vida, às 18h, na Sé Nova. 
O P. António nasceu em 1942, em Arouca, e teve uma vida cheia e intensa, sendo responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de Jesus de grande relevância apostólica. Além do CUMN, o P. António fundou os Leigos para o Desenvolvimento (1986), o Centro São Cirilo (2002), no Porto, e o Centro Universitário Padre António Vieira (1984-1997), em Lisboa. Foi também Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas durante três anos (2002-2005).
A vida do P. António, no seu serviço sacerdotal, nos Exercícios espirituais que orientou, nos inúmeros acompanhamentos espirituais, nas pessoas que marcou e nas obras que criou ou ajudou a criar, foi Evangelho vivo e anúncio da presença do Reino no meio de nós. 
Rezamos com todos os companheiros jesuítas, com a família do P. António, com os seus amigos pessoais e com a comunidade inaciana. 
Confiamos a vida do P. António nas mãos do Pai e contamos com a sua enérgica intercessão.

Por Laurinda Alves

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
DEVO MUITO A ANTÓNIO VAZ PINTO, SJ. 
A sua alegria e espontaneidade são uma marca que todos reconhecemos. Gestos largos, exuberantes, palavra incisiva, olhar atento, comunicador eloquente, homem sábio, cuja erudição e sensibilidade vinham sempre acompanhadas de humor, pequenas histórias e grandes gargalhadas. 
Devo muito ao Padre António Vaz Pinto. Ficámos amigos em 1995, depois de uma entrevista que nos deu no programa "O Senhor Que Se Segue", na SIC (infelizmente já não encontro na net a entrevista dele) e vivemos esta nossa amizade de 27 anos sempre com grande proximidade.
António Vaz Pinto falava de Deus como de um Amigo (com 'A' grande, naturalmente) e a intimidade que tinha com Ele resgatava o nosso olhar, convertia o coração e transformava a nossa ação. Revelava um Deus de infinita bondade e misericórdia, um Deus de amor, mas também com muito sentido de humor.
Devo ao Padre António um novo olhar para Deus, uma fé renovada e fortalecida, uma consciência mais e melhor formada, uma liberdade interior reforçada. Por tudo isto, que é tanto, não terei nunca palavras à altura da minha gratidão. 
Li o que escreveu João van Zeller, no Observador, e também o comunicado da Companhia de Jesus, no Ponto SJ. Deixo aqui os links, pois ambos os textos falam da vida e obra de António Vaz Pinto, o meu querido amigo que me vai fazer tanta falta e com quem ainda tive boas conversas nas vésperas do dia em que fez 80 anos e ... se despediu da família e dos amigos, porventura ciente de que esta seria a última homilia da sua vida. E foi.

Por Augusto Manuel Lucas Miranda

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
80 anos do nosso Padre António Vaz Pinto, pastor de Deus que nos ajudou a sermos o que somos. Eternamente grato

Em "Ver além do Olhar" (página do Facebook)

Partilhado por Sara Severino em 4 de julho de 2022
OBRIGADO, PADRE ANTÓNIO
Faleceu hoje o Padre António Vaz Pinto.
Um ‘monstro’, como lhe chamávamos carinhosamente.
Fica gravada na minha memória uma viagem Braga-Lisboa que fiz ao seu lado: passei o tempo todo a rir com aquele seu discurso hiperbólico, superlativo, sempre a transbordar de energia, ímpeto, empenho, exagero, nem sei bem como lhe chamar.
Foi um homem intenso, sem dúvida: uma figura exemplar do jesuíta empreendedor. Conseguia conjugar ação e contemplação, sempre com um pé no acelerador. Não é por acaso a quantidade de obra feita.
Dos retiros que fiz com ele, guardo um momento de particular graça. 
Contou ele a história de um escultor - talvez Michelangelo - que tinha transformado um bloco de mármore numa das mais belas obras de arte de sempre. Alguém se aproximou, curioso, e perguntou como tinha ele conseguido tal proeza. 
E ele respondeu: “pan-ca-di-nha a pan-ca-di-nha”.
Obrigado, Padre António Vaz Pinto, por tanto bem recebido.
#jesuitas #celebração #agradecimento #gratidão #antoniovazpinto #espiritualidade

A História do Padre António connosco (Luísa e Rui, Blá e Manecas)

Partilhado por Sara Severino em 3 de julho de 2022
Há um mês partia para o Pai a mãe Idalina. Presença incontornável e estruturante da nossa família, como não poderia deixar de ser. A sua serenidade, a sua fé em Deus e o sua atenção eram os traços de um amor cuidador e incondicional para com tantos, que muito apoiou e ajudou a estruturar, onde naturalmente ocupamos o primeiro posto. Nada ficou por fazer, tudo para agradecer.
Talvez por isso a sua partida, embora dolorosa e sempre antes de tempo, nos tenha sido oferecida em serenidade e gratidão, rodeados de amigos, que tornaram a presença da mãe Idalina muito maior que a sua ausência.
Foi nessa presença trazida através das palavras e gratidão de tantos que vivemos os dias difíceis da despedida, unidos, na certeza de uma ressurreição plena e do encontro com aqueles de quem cuidou e que tanto amou e que há muito aguardavam por ela. Sobrou - sobra sempre - a tristeza dos que ficam, mesmo conscientes da alegria dos que assim partem. Nunca nada nem ninguém substitui uma mãe.
Apenas uma semana depois o nosso cuidado virou-se subitamente para outro gigante dos nossos corações. Poucos dias passados, estávamos a celebrar com júbilo os 80 anos do Padre António Vaz Pinto que, apenas 3 dias depois, havia de ser hospitalizado em estado crítico por complicações pulmonares. Por fim, partiu da nossa presença terrena, atravessando definitivamente - como dizia - a porta da ressurreição.
Será difícil explicar - ou talvez não, porque cremos que aqueles que amou o perceberão sem hesitações -  quem é e quem foi o P. António para nós. Defini-lo como líder, mestre, amigo ou companheiro parece-nos pouco, porque essas palavras não têm capacidade de conter tudo o que ele é em nós. Talvez porque não se tratem de conceitos, mas de Amor, e o Amor não cabe nas palavras. 
A sua marca em nós é algo incarnado, que está cá dentro e bem inscrito nos alicerces daquilo que fomos e somos depois que as nossas vidas se cruzaram. A nossa realidade - família, relações, trabalhos, sonhos, memórias,... - simplesmente não existiriam sem ele. Não se trata apenas, portanto, de alguém muito importante e determinante para nós, é muito mais do que isso. É algo que vive em nós, dentro de nós, que nos define e nos condiciona, na acepção construtiva e libertadora da palavra. Mais ainda, é um sentimento coletivo mas, sobretudo, individualizado. Aplica-se a máxima que o próprio usava para Deus, dizendo que este só tem filhos únicos.
Cruzámo-nos com P. António num momento crucial do nosso crescimento. Os afetos, as vocações, as relações e as descobertas, características da entrada numa vida adulta, foram vividas, amadas e ordenadas com a sua presença, acompanhamento e conselho. Naquelas que eram as suas características - a liberdade esclarecida e discernida e a alegria com a vida - mas também os seus fundamentos - o serviço da fé e a promoção da justiça. Os nossos casamentos, famílias, vidas partilhadas, amizade e projetos estão radicados nesse momento histórico e são, por isso, indissociáveis de nós, para sempre.
Assim é evidente que, para nós, falar do Padre António também é definir Deus. O Deus do Amor libertador e fecundo que nos coloca em desafio interno permanente e em ação externa consequente. 
Como colocar em palavras o que significa para nós uma pessoa assim? Alguém que nos revela Deus nesta terra desta forma?
Fica-nos ainda a dúvida: será que nos últimos anos não estivemos tão presentes quanto deveríamos. Será que criámos oportunidades para lhe dizer o quão importante ele é para nós? Como diria:  "sim, sim, sim... isso não interessa nada! Deixem-se de lamechices e ponham-se a caminho! Caramba!" 
Ponhamo-nos então a caminho. Agradecidos e animados pela sua presença que, sabemos, não é exterior nem memória, é incarnada em cada um de nós e em todos!
Cá vamos então!

Entrevista de Livros com Fé - Ep.60 - Pe. António Vaz Pinto

Partilhado por Paulo Marques em 1 de julho de 2022
fonte: yotube
publicado por Angelus Tv

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