Uma manhã na casa de férias
Numa manhã de agosto, precisamente no dia 15 de 2019, perto da praia de S. Julião, onde o tempo parece girar ao contrário, passei alguns dos dias de verão em repouso com a minha família materna. A primeira pessoa que vi foi a minha avó.
O nascer do sol que entrava pela janela iluminava a casa, espalhando luz por quase todos os cantos. Ouvíamos o som dos chinelos arrastando-se pela cozinha, sinal de que a minha avó já estava de pé. Ela tomava sempre o mesmo pequeno-almoço: um copo de leite com sevada e pão. Junto com isso, vinham os comprimidos que tomava para gerir as suas preocupações gástricas. Aos domingos, ligava a televisão para ouvir a missa, mas em dias normais, as prioridades eram outras.
Depois de tomar o pequeno-almoço, lavava-se, vestia-se, penteava-se, aplicava os seus cremes e colocava a sua bijutaria. Ela gostava de estar pronta para sair e ir às compras, embora não tivesse carro e o supermercado ficasse longe demais para ir a pé.
Nesse dia, no entanto, tinha acabado de lavar a roupa à mão, uma tarefa que vi poucas pessoas fazerem ao longo da minha vida. Ela não gostava que lhe tirassem fotografias de improviso, mas tive a sorte de capturá-la num momento bastante caricato.
O nascer do sol que entrava pela janela iluminava a casa, espalhando luz por quase todos os cantos. Ouvíamos o som dos chinelos arrastando-se pela cozinha, sinal de que a minha avó já estava de pé. Ela tomava sempre o mesmo pequeno-almoço: um copo de leite com sevada e pão. Junto com isso, vinham os comprimidos que tomava para gerir as suas preocupações gástricas. Aos domingos, ligava a televisão para ouvir a missa, mas em dias normais, as prioridades eram outras.
Depois de tomar o pequeno-almoço, lavava-se, vestia-se, penteava-se, aplicava os seus cremes e colocava a sua bijutaria. Ela gostava de estar pronta para sair e ir às compras, embora não tivesse carro e o supermercado ficasse longe demais para ir a pé.
Nesse dia, no entanto, tinha acabado de lavar a roupa à mão, uma tarefa que vi poucas pessoas fazerem ao longo da minha vida. Ela não gostava que lhe tirassem fotografias de improviso, mas tive a sorte de capturá-la num momento bastante caricato.
Uma Ida ao Teatro
Foi no dia 17 de novembro de 2019 que a minha avó, cheia de força e resiliência, saiu de sua casa em Agualva Cacém e, pelo seu próprio pé, apanhou o comboio para Lisboa. Ela estava convencida por mim pelo menos a sair de casa e vir ver o seu neto a representar.
Esse dia foi muito especial para mim. Naquele mês, eu estava a apresentar pela primeira vez um espetáculo com a companhia de teatro da qual faço parte -Teatro da Cidade - no Teatro D. Maria II. Era um motivo de orgulho e, por isso, quis convidar os meus familiares.
A minha avó, sempre determinada, chegou ao teatro e ralhou com o senhor da bilheteira. Apesar de ter um convite reservado para ela, fazia questão de pagar o bilhete. Eu, antecipando este quiproquó, tinha dado instruções claras ao senhor da bilheteira: "Peço-lhe por tudo que não deixe a minha avó pagar o bilhete. Eu tenho direito a este convite e faço questão de o oferecer."
Depois de resolvermos a questão dos bilhetes e contar metade da sua vida a este senhor, a minha avó sentou-se comigo e disse: "Vá, agora vens comer aqui um lanchinho comigo. O que é que queres?" A carta do teatro tinha uma ementa diferente da qual ela costumava comer. Sugeri-lhe uma tosta de pera abacate, e ela olhou para mim, espantada, sem saber o que era. Sempre desconfiada, disse que não ia gostar, mas assim que a tosta chegou e ela provou, fez-se um silêncio. Gostou tanto que comeu tudo!
Fiquei feliz, não só por ela ter vindo ao teatro, mas por partilhar com ela um momento tão simples e vê-la contente ao experimentar algo novo. Talvez ela não precisasse de vir mais vezes ao teatro para ver o seu neto, mas esses momentos simples que a vida nos oferece eram preciosos.
Depois do lanche, ela subiu de elevador para a sala experimental, e ali a deixei enquanto fui para o camarim preparar-me. No final do espetáculo, dei-lhe um abraço e agradeci muito por ter estado presente naquele dia. Será uma memória que jamais esquecerei.
Esse dia foi muito especial para mim. Naquele mês, eu estava a apresentar pela primeira vez um espetáculo com a companhia de teatro da qual faço parte -Teatro da Cidade - no Teatro D. Maria II. Era um motivo de orgulho e, por isso, quis convidar os meus familiares.
A minha avó, sempre determinada, chegou ao teatro e ralhou com o senhor da bilheteira. Apesar de ter um convite reservado para ela, fazia questão de pagar o bilhete. Eu, antecipando este quiproquó, tinha dado instruções claras ao senhor da bilheteira: "Peço-lhe por tudo que não deixe a minha avó pagar o bilhete. Eu tenho direito a este convite e faço questão de o oferecer."
Depois de resolvermos a questão dos bilhetes e contar metade da sua vida a este senhor, a minha avó sentou-se comigo e disse: "Vá, agora vens comer aqui um lanchinho comigo. O que é que queres?" A carta do teatro tinha uma ementa diferente da qual ela costumava comer. Sugeri-lhe uma tosta de pera abacate, e ela olhou para mim, espantada, sem saber o que era. Sempre desconfiada, disse que não ia gostar, mas assim que a tosta chegou e ela provou, fez-se um silêncio. Gostou tanto que comeu tudo!
Fiquei feliz, não só por ela ter vindo ao teatro, mas por partilhar com ela um momento tão simples e vê-la contente ao experimentar algo novo. Talvez ela não precisasse de vir mais vezes ao teatro para ver o seu neto, mas esses momentos simples que a vida nos oferece eram preciosos.
Depois do lanche, ela subiu de elevador para a sala experimental, e ali a deixei enquanto fui para o camarim preparar-me. No final do espetáculo, dei-lhe um abraço e agradeci muito por ter estado presente naquele dia. Será uma memória que jamais esquecerei.