Uma alma gentil e sensível, uma presença serena. Nosso amado Marcio era aquele companheiro de conversa e risadas que cativava a todos e deixava sempre um gostinho de "quero mais" da sua presença quando se recolhia em seu silêncio. Foi um ouvinte afetuoso e paciente. Quando compartilhávamos com ele os nossos momentos difíceis, era sempre com uma palavra de otimismo e esperança que nos acolhia: "Relaxe...tudo vai dar certo, tudo vai se resolver". Sua força e determinação para enfrentar a vida e seus obstáculos nos serve de inspiração. Abraçou até onde pode as pressões que a vida lhe impôs. Sua partida será sempre sentida como precoce por nós que o amamos, mas nos confortamos em constatar que teve uma vida de realizações em tantos âmbitos. Foi o "Baba" de Jorge e Mathias, a "Vida" de Juliana, o "Mega" dos amigos, o "Cinho" da família, o nosso "Migo". Mais recentemente, perseguia o sonho de ser médico. E mesmo faltando tão pouco para se concretizar, agradecemos pela oportunidade que ele teve de se dedicar a este projeto por cinco anos com tanto sacrifício e empenho. Foi reconhecido por colegas e professores por sua competência e conhecimento. Sua luz iluminou a vida de muitos que fizeram parte da sua trajetória. Essa luz estará sempre acesa nos nossos corações e iluminando os nossos passos. Que a sua recordação dure para sempre.
Sobre Palcos e Flores.
A vida, de certa forma, nos apresenta vários momentos de perda. Algumas perdas são fáceis de lidar. Outras, são muito, muito difíceis. Umas são pessoais, atuando como principais atores e diretores. Já em outras, estamos na plateia, bastidores, ou atuando como atores coadjuvantes.
Tenho a sensação que essas últimas são de uma dimensão diferente. Quando a perda acontece no palco principal das nossas vidas, onde somos os principais atores e diretores, o processo e o resultado são claramente nossos. Um passo em falso, e tudo pode piorar. Decisões acertadas, e as coisas caminham numa direção menos dolorida.
Mas quando estamos nos bastidores ou atuamos como coadjuvantes, nossa capacidade de impactar o outro diminui drasticamente.
A dor é instransferível. O sofrimento é único.
Ter de lidar com a dor e sofrimento de quem mais amamos na vida é, também, dolorido. Nos bastidores do teatro da vida, podemos dar suporte e oferecer o que esteja ao nosso alcance. Mas não podemos simplesmente pegar a dor e o sofrimento, dividir em fatias, e distribuir.
Não podemos entrar no coração de quem amamos e roubar nem a dor, nem o sofrimento, nem pegar para nós o abismo que se abre abaixo dos seus pés para cair no seu lugar.
A dor é única. O sofrimento é intransferível. E o abismo da perda não pode ser dividido.
Mas podem ser compartilhados.
Nos bastidores ou como coadjuvantes, talvez a única ferramenta ao nosso dispor é escutar. Ouvir. Estar presente.
Nos últimos meses, por incontáveis vezes me peguei com um impulso de tentar roubar pra mim a dor, o desolamento, o sofrimento, a angústia estampada nos olhos, no semblante, nas expressões do rosto de uma das pessoas mais alegres que eu já conheci: Mariana. O meu amor, a minha namorada, esposa, colega de trabalho, parceira de aventuras e de viagens. Mas não há como roubar, pegar, dividir, ou estancar a dor, o sofrimento, o abismo.
A dor não pode ser dividida. O sofrimento é único. O abismo é intransferível. A angústia é individual.
Como atores assistentes desse palco, também sofremos, e muito. Mas é uma dor que tem que ser vivida contida, calada. O sofrimento e a dor dos outros vêm em primeiro lugar. E já basta o que têm que enfrentar…
O que está ao meu alcance, além da presença e da escuta, é a memória e as lembranças.
É ai que entram as flores.
Um dia precisei ir para Conquista meio que de última hora. Não era necessariamente uma surpresa, mas era uma viagem não planejada. Precisava chegar na rodoviária (a situação financeira naquela época nem era ruim, porque para ser ruim ia precisar melhorar um bocado) e ir direto para uma floricultura para comprar um arranjo de flores bem bonito para dar de presente pra Mari. Tinha que ser um bem bonito e bem grande (quanto maior o buquê, maior a cagada de quem entrega, como já dizia a sabedoria popular mineira).
Como eu não conhecia a cidade direito, pedi ajuda ao mago dos bastidores, Márcio. A tarefa foi prontamente aceita em parte, desconfio eu, pela curiosidade de saber o que havia acontecido para merecer um arranjo de flores e uma visita não agendada, mas isso já é especulação minha.
O que sei ao certo é que fomos para uma floricultura local curiosa. A variedade de flores não era tão grande quanto eu esperava. Os arranjos não eram bem como eu estava imaginando. E o clima não era aquele clima agradável de floricultura decorativa.
Perguntei se não havia um arranjo de rosas vermelhas, rosas, e brancas para dar de presente. A vendedora me olhou de uma forma típica: não devia estar compreendendo o meu sotaque, pensei.
Repeti a pergunta, tentando falar o mais claramente possível, devagar, sem recursos linguísticos mineiros algum. Ela me olhou estranho novamente e me perguntou: “não é uma escolha muito diferente não?”.
Como pode arranjo de rosas ser uma escolha diferente? Será que no planalto bahiano as pessoas optavam por outro tipo de flores para as pessoas que amavam?
Devolvi o olhar estranho.
Ganhei outro mais curioso ainda.
E aí compreendi o mistério: Marcio tinha me levado para uma floricultura de velório.
Genial.
Não sei se foi de propósito ou se foi a primeira que lhe passou pela memória.
Mas era uma floricultura especializada em outro tipo de situação, e a minha não passava perto de um velório…
Essa é uma história que eu gosto sempre de contar.
E tem me ajudado a lembrar do Marcio de uma forma que me traga alegria, ofuscando a dor.
A dor é instransferível. O sofrimento é único. A presença e a escuta ajudam.
A memória de boas histórias podem servir para dar uma leveza momentânea.
Os palcos da vida nem sempre nos faz rir. Muitas vezes nos testam ao limite.
Que as flores nos ajudem.
A vida, de certa forma, nos apresenta vários momentos de perda. Algumas perdas são fáceis de lidar. Outras, são muito, muito difíceis. Umas são pessoais, atuando como principais atores e diretores. Já em outras, estamos na plateia, bastidores, ou atuando como atores coadjuvantes.
Tenho a sensação que essas últimas são de uma dimensão diferente. Quando a perda acontece no palco principal das nossas vidas, onde somos os principais atores e diretores, o processo e o resultado são claramente nossos. Um passo em falso, e tudo pode piorar. Decisões acertadas, e as coisas caminham numa direção menos dolorida.
Mas quando estamos nos bastidores ou atuamos como coadjuvantes, nossa capacidade de impactar o outro diminui drasticamente.
A dor é instransferível. O sofrimento é único.
Ter de lidar com a dor e sofrimento de quem mais amamos na vida é, também, dolorido. Nos bastidores do teatro da vida, podemos dar suporte e oferecer o que esteja ao nosso alcance. Mas não podemos simplesmente pegar a dor e o sofrimento, dividir em fatias, e distribuir.
Não podemos entrar no coração de quem amamos e roubar nem a dor, nem o sofrimento, nem pegar para nós o abismo que se abre abaixo dos seus pés para cair no seu lugar.
A dor é única. O sofrimento é intransferível. E o abismo da perda não pode ser dividido.
Mas podem ser compartilhados.
Nos bastidores ou como coadjuvantes, talvez a única ferramenta ao nosso dispor é escutar. Ouvir. Estar presente.
Nos últimos meses, por incontáveis vezes me peguei com um impulso de tentar roubar pra mim a dor, o desolamento, o sofrimento, a angústia estampada nos olhos, no semblante, nas expressões do rosto de uma das pessoas mais alegres que eu já conheci: Mariana. O meu amor, a minha namorada, esposa, colega de trabalho, parceira de aventuras e de viagens. Mas não há como roubar, pegar, dividir, ou estancar a dor, o sofrimento, o abismo.
A dor não pode ser dividida. O sofrimento é único. O abismo é intransferível. A angústia é individual.
Como atores assistentes desse palco, também sofremos, e muito. Mas é uma dor que tem que ser vivida contida, calada. O sofrimento e a dor dos outros vêm em primeiro lugar. E já basta o que têm que enfrentar…
O que está ao meu alcance, além da presença e da escuta, é a memória e as lembranças.
É ai que entram as flores.
Um dia precisei ir para Conquista meio que de última hora. Não era necessariamente uma surpresa, mas era uma viagem não planejada. Precisava chegar na rodoviária (a situação financeira naquela época nem era ruim, porque para ser ruim ia precisar melhorar um bocado) e ir direto para uma floricultura para comprar um arranjo de flores bem bonito para dar de presente pra Mari. Tinha que ser um bem bonito e bem grande (quanto maior o buquê, maior a cagada de quem entrega, como já dizia a sabedoria popular mineira).
Como eu não conhecia a cidade direito, pedi ajuda ao mago dos bastidores, Márcio. A tarefa foi prontamente aceita em parte, desconfio eu, pela curiosidade de saber o que havia acontecido para merecer um arranjo de flores e uma visita não agendada, mas isso já é especulação minha.
O que sei ao certo é que fomos para uma floricultura local curiosa. A variedade de flores não era tão grande quanto eu esperava. Os arranjos não eram bem como eu estava imaginando. E o clima não era aquele clima agradável de floricultura decorativa.
Perguntei se não havia um arranjo de rosas vermelhas, rosas, e brancas para dar de presente. A vendedora me olhou de uma forma típica: não devia estar compreendendo o meu sotaque, pensei.
Repeti a pergunta, tentando falar o mais claramente possível, devagar, sem recursos linguísticos mineiros algum. Ela me olhou estranho novamente e me perguntou: “não é uma escolha muito diferente não?”.
Como pode arranjo de rosas ser uma escolha diferente? Será que no planalto bahiano as pessoas optavam por outro tipo de flores para as pessoas que amavam?
Devolvi o olhar estranho.
Ganhei outro mais curioso ainda.
E aí compreendi o mistério: Marcio tinha me levado para uma floricultura de velório.
Genial.
Não sei se foi de propósito ou se foi a primeira que lhe passou pela memória.
Mas era uma floricultura especializada em outro tipo de situação, e a minha não passava perto de um velório…
Essa é uma história que eu gosto sempre de contar.
E tem me ajudado a lembrar do Marcio de uma forma que me traga alegria, ofuscando a dor.
A dor é instransferível. O sofrimento é único. A presença e a escuta ajudam.
A memória de boas histórias podem servir para dar uma leveza momentânea.
Os palcos da vida nem sempre nos faz rir. Muitas vezes nos testam ao limite.
Que as flores nos ajudem.
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Sobre Palcos e Flores.
A vida, de certa forma, nos apresenta vários momentos de perda. Algumas perdas são fáceis de lidar. Outras, são muito, muito difíceis. Umas são pessoais, atuando como principais atores e diretores. Já em outras, estamos na plateia, bastidores, ou atuando como atores coadjuvantes.
Tenho a sensação que essas últimas são de uma dimensão diferente. Quando a perda acontece no palco principal das nossas vidas, onde somos os principais atores e diretores, o processo e o resultado são claramente nossos. Um passo em falso, e tudo pode piorar. Decisões acertadas, e as coisas caminham numa direção menos dolorida.
Mas quando estamos nos bastidores ou atuamos como coadjuvantes, nossa capacidade de impactar o outro diminui drasticamente.
A dor é instransferível. O sofrimento é único.
Ter de lidar com a dor e sofrimento de quem mais amamos na vida é, também, dolorido. Nos bastidores do teatro da vida, podemos dar suporte e oferecer o que esteja ao nosso alcance. Mas não podemos simplesmente pegar a dor e o sofrimento, dividir em fatias, e distribuir.
Não podemos entrar no coração de quem amamos e roubar nem a dor, nem o sofrimento, nem pegar para nós o abismo que se abre abaixo dos seus pés para cair no seu lugar.
A dor é única. O sofrimento é intransferível. E o abismo da perda não pode ser dividido.
Mas podem ser compartilhados.
Nos bastidores ou como coadjuvantes, talvez a única ferramenta ao nosso dispor é escutar. Ouvir. Estar presente.
Nos últimos meses, por incontáveis vezes me peguei com um impulso de tentar roubar pra mim a dor, o desolamento, o sofrimento, a angústia estampada nos olhos, no semblante, nas expressões do rosto de uma das pessoas mais alegres que eu já conheci: Mariana. O meu amor, a minha namorada, esposa, colega de trabalho, parceira de aventuras e de viagens. Mas não há como roubar, pegar, dividir, ou estancar a dor, o sofrimento, o abismo.
A dor não pode ser dividida. O sofrimento é único. O abismo é intransferível. A angústia é individual.
Como atores assistentes desse palco, também sofremos, e muito. Mas é uma dor que tem que ser vivida contida, calada. O sofrimento e a dor dos outros vêm em primeiro lugar. E já basta o que têm que enfrentar…
O que está ao meu alcance, além da presença e da escuta, é a memória e as lembranças.
É ai que entram as flores.
Um dia precisei ir para Conquista meio que de última hora. Não era necessariamente uma surpresa, mas era uma viagem não planejada. Precisava chegar na rodoviária (a situação financeira naquela época nem era ruim, porque para ser ruim ia precisar melhorar um bocado) e ir direto para uma floricultura para comprar um arranjo de flores bem bonito para dar de presente pra Mari. Tinha que ser um bem bonito e bem grande (quanto maior o buquê, maior a cagada de quem entrega, como já dizia a sabedoria popular mineira).
Como eu não conhecia a cidade direito, pedi ajuda ao mago dos bastidores, Márcio. A tarefa foi prontamente aceita em parte, desconfio eu, pela curiosidade de saber o que havia acontecido para merecer um arranjo de flores e uma visita não agendada, mas isso já é especulação minha.
O que sei ao certo é que fomos para uma floricultura local curiosa. A variedade de flores não era tão grande quanto eu esperava. Os arranjos não eram bem como eu estava imaginando. E o clima não era aquele clima agradável de floricultura decorativa.
Perguntei se não havia um arranjo de rosas vermelhas, rosas, e brancas para dar de presente. A vendedora me olhou de uma forma típica: não devia estar compreendendo o meu sotaque, pensei.
Repeti a pergunta, tentando falar o mais claramente possível, devagar, sem recursos linguísticos mineiros algum. Ela me olhou estranho novamente e me perguntou: “não é uma escolha muito diferente não?”.
Como pode arranjo de rosas ser uma escolha diferente? Será que no planalto bahiano as pessoas optavam por outro tipo de flores para as pessoas que amavam?
Devolvi o olhar estranho.
Ganhei outro mais curioso ainda.
E aí compreendi o mistério: Marcio tinha me levado para uma floricultura de velório.
Genial.
Não sei se foi de propósito ou se foi a primeira que lhe passou pela memória.
Mas era uma floricultura especializada em outro tipo de situação, e a minha não passava perto de um velório…
Essa é uma história que eu gosto sempre de contar.
E tem me ajudado a lembrar do Marcio de uma forma que me traga alegria, ofuscando a dor.
A dor é instransferível. O sofrimento é único. A presença e a escuta ajudam.
A memória de boas histórias podem servir para dar uma leveza momentânea.
Os palcos da vida nem sempre nos faz rir. Muitas vezes nos testam ao limite.
Que as flores nos ajudem.
A vida, de certa forma, nos apresenta vários momentos de perda. Algumas perdas são fáceis de lidar. Outras, são muito, muito difíceis. Umas são pessoais, atuando como principais atores e diretores. Já em outras, estamos na plateia, bastidores, ou atuando como atores coadjuvantes.
Tenho a sensação que essas últimas são de uma dimensão diferente. Quando a perda acontece no palco principal das nossas vidas, onde somos os principais atores e diretores, o processo e o resultado são claramente nossos. Um passo em falso, e tudo pode piorar. Decisões acertadas, e as coisas caminham numa direção menos dolorida.
Mas quando estamos nos bastidores ou atuamos como coadjuvantes, nossa capacidade de impactar o outro diminui drasticamente.
A dor é instransferível. O sofrimento é único.
Ter de lidar com a dor e sofrimento de quem mais amamos na vida é, também, dolorido. Nos bastidores do teatro da vida, podemos dar suporte e oferecer o que esteja ao nosso alcance. Mas não podemos simplesmente pegar a dor e o sofrimento, dividir em fatias, e distribuir.
Não podemos entrar no coração de quem amamos e roubar nem a dor, nem o sofrimento, nem pegar para nós o abismo que se abre abaixo dos seus pés para cair no seu lugar.
A dor é única. O sofrimento é intransferível. E o abismo da perda não pode ser dividido.
Mas podem ser compartilhados.
Nos bastidores ou como coadjuvantes, talvez a única ferramenta ao nosso dispor é escutar. Ouvir. Estar presente.
Nos últimos meses, por incontáveis vezes me peguei com um impulso de tentar roubar pra mim a dor, o desolamento, o sofrimento, a angústia estampada nos olhos, no semblante, nas expressões do rosto de uma das pessoas mais alegres que eu já conheci: Mariana. O meu amor, a minha namorada, esposa, colega de trabalho, parceira de aventuras e de viagens. Mas não há como roubar, pegar, dividir, ou estancar a dor, o sofrimento, o abismo.
A dor não pode ser dividida. O sofrimento é único. O abismo é intransferível. A angústia é individual.
Como atores assistentes desse palco, também sofremos, e muito. Mas é uma dor que tem que ser vivida contida, calada. O sofrimento e a dor dos outros vêm em primeiro lugar. E já basta o que têm que enfrentar…
O que está ao meu alcance, além da presença e da escuta, é a memória e as lembranças.
É ai que entram as flores.
Um dia precisei ir para Conquista meio que de última hora. Não era necessariamente uma surpresa, mas era uma viagem não planejada. Precisava chegar na rodoviária (a situação financeira naquela época nem era ruim, porque para ser ruim ia precisar melhorar um bocado) e ir direto para uma floricultura para comprar um arranjo de flores bem bonito para dar de presente pra Mari. Tinha que ser um bem bonito e bem grande (quanto maior o buquê, maior a cagada de quem entrega, como já dizia a sabedoria popular mineira).
Como eu não conhecia a cidade direito, pedi ajuda ao mago dos bastidores, Márcio. A tarefa foi prontamente aceita em parte, desconfio eu, pela curiosidade de saber o que havia acontecido para merecer um arranjo de flores e uma visita não agendada, mas isso já é especulação minha.
O que sei ao certo é que fomos para uma floricultura local curiosa. A variedade de flores não era tão grande quanto eu esperava. Os arranjos não eram bem como eu estava imaginando. E o clima não era aquele clima agradável de floricultura decorativa.
Perguntei se não havia um arranjo de rosas vermelhas, rosas, e brancas para dar de presente. A vendedora me olhou de uma forma típica: não devia estar compreendendo o meu sotaque, pensei.
Repeti a pergunta, tentando falar o mais claramente possível, devagar, sem recursos linguísticos mineiros algum. Ela me olhou estranho novamente e me perguntou: “não é uma escolha muito diferente não?”.
Como pode arranjo de rosas ser uma escolha diferente? Será que no planalto bahiano as pessoas optavam por outro tipo de flores para as pessoas que amavam?
Devolvi o olhar estranho.
Ganhei outro mais curioso ainda.
E aí compreendi o mistério: Marcio tinha me levado para uma floricultura de velório.
Genial.
Não sei se foi de propósito ou se foi a primeira que lhe passou pela memória.
Mas era uma floricultura especializada em outro tipo de situação, e a minha não passava perto de um velório…
Essa é uma história que eu gosto sempre de contar.
E tem me ajudado a lembrar do Marcio de uma forma que me traga alegria, ofuscando a dor.
A dor é instransferível. O sofrimento é único. A presença e a escuta ajudam.
A memória de boas histórias podem servir para dar uma leveza momentânea.
Os palcos da vida nem sempre nos faz rir. Muitas vezes nos testam ao limite.
Que as flores nos ajudem.
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Essa foi a última visita de vovó Ede a nossa casa, em 2018. Márcio recepcionando!

Márcio reunido com os primos e irmã na fazenda Bom Jardim, década de 90

Márcio reunido com o avô Zeca, primos e irmã na fazenda Bom Jardim, década de 90

Márcio reunido com os primos e irmã na fazenda Bom Jardim, década de 90

Histórias recentes
Sobre um Café Especial...
.Era comum Márcio chegar na casa dos nossos pais e providenciar uma caneca de café para ir tomando pelo tempo que ficasse ali. Muitas vezes a passagem era rápida, deixava os meninos e logo saia dizendo "vou ali resolver uma coisa e já volto". Outras vezes demorava mais um pouco. Era quando subia as escadas e ficava na televisão assistindo uma série -suspeito que para fugir da algazarra das crianças ou do agito das nossas conversas.
Outras raras vezes ele vinha e se demorava na nossa companhia. Sentava, contava uma resenha, ouvia outra, dava risada. Certa vez, ali pelo ano de 2022 ou 23, Márcio chegou em casa com um pacote de café . O detalhe: eram grãos crus. Era dessas pessoas que gostava do processo. Teve um tempo que fazia velas e sabonetes (lembro até hoje da fragrância de bergamota, minha preferida) e fez uma horta em casa que deu gosto de ver de tão organizada! Ele acordava cedinho, antes de todos e de iniciar a batalha do dia e seguia para cuidar das verduras. Era seu momento "hortaterapia". Acompanhei as sementinhas brotando e a satisfação dele me apresentando o projeto. Nas outras férias as verduras já estavam graudas (lembro que fiquei impressionada com as abóboras) e depois veio a colheita, mas eu já não estava por Conquista.
Café ele nunca plantou, mas como era de gostar desse processo que ia do início até o produto final, trouxe um pacote de grãos de café crus para casa. Sua missão era torra-los numa panelinha velha até o ponto certo e moer os grãos torrados. Na falta de um moedor elétrico creio que ele usou um processador...confesso que me faltou paciência para acompanhar tudo, mas estava presente, claro, no momento da degustação. Ficou bem gostoso e tínha, claro, o sabor especial do processo. Eu tive a sorte de estar por ali e acompanhar essa experiência inusitada que Márcio nos presenteou. Outra testemunha foi Marlene. Pois bem, na minha empolgação vendo aquilo acontecer fiz o vídeo para compartilhar com Thaís e agora temos esse registro para saborear!
Outras raras vezes ele vinha e se demorava na nossa companhia. Sentava, contava uma resenha, ouvia outra, dava risada. Certa vez, ali pelo ano de 2022 ou 23, Márcio chegou em casa com um pacote de café . O detalhe: eram grãos crus. Era dessas pessoas que gostava do processo. Teve um tempo que fazia velas e sabonetes (lembro até hoje da fragrância de bergamota, minha preferida) e fez uma horta em casa que deu gosto de ver de tão organizada! Ele acordava cedinho, antes de todos e de iniciar a batalha do dia e seguia para cuidar das verduras. Era seu momento "hortaterapia". Acompanhei as sementinhas brotando e a satisfação dele me apresentando o projeto. Nas outras férias as verduras já estavam graudas (lembro que fiquei impressionada com as abóboras) e depois veio a colheita, mas eu já não estava por Conquista.
Café ele nunca plantou, mas como era de gostar desse processo que ia do início até o produto final, trouxe um pacote de grãos de café crus para casa. Sua missão era torra-los numa panelinha velha até o ponto certo e moer os grãos torrados. Na falta de um moedor elétrico creio que ele usou um processador...confesso que me faltou paciência para acompanhar tudo, mas estava presente, claro, no momento da degustação. Ficou bem gostoso e tínha, claro, o sabor especial do processo. Eu tive a sorte de estar por ali e acompanhar essa experiência inusitada que Márcio nos presenteou. Outra testemunha foi Marlene. Pois bem, na minha empolgação vendo aquilo acontecer fiz o vídeo para compartilhar com Thaís e agora temos esse registro para saborear!
Sobre Palcos e Flores.
A vida, de certa forma, nos apresenta vários momentos de perda. Algumas perdas são fáceis de lidar. Outras, são muito, muito difíceis. Umas são pessoais, e nelas atuamos como principais atores e diretores. Já em outras, estamos na plateia, bastidores, ou atuando como atores coadjuvantes.
Tenho a sensação que essas últimas são de uma dimensão diferente. Quando a perda acontece no palco principal das nossas vidas, onde somos os principais atores e diretores, o processo e o resultado são claramente nossos. Um passo em falso, e tudo pode piorar. Decisões acertadas, e as coisas caminham numa direção menos dolorida.
Mas quando estamos nos bastidores ou atuamos como coadjuvantes, nossa capacidade de impactar o outro diminui drasticamente.
A dor é instransferível. O sofrimento é único.
Ter de lidar com a dor e sofrimento de quem mais amamos na vida é, também, dolorido. Nos bastidores do teatro da vida, podemos dar suporte e oferecer o que esteja ao nosso alcance. Mas não podemos simplesmente pegar a dor e o sofrimento, dividir em fatias, e distribuir.
Não podemos entrar no coração de quem amamos e roubar nem a dor, nem o sofrimento, nem pegar para nós o abismo que se abre abaixo dos seus pés para cair no seu lugar.
A dor é única. O sofrimento é intransferível. E o abismo da perda não pode ser dividido.
Mas podem ser compartilhados.
Nos bastidores ou como coadjuvantes, talvez a única ferramenta ao nosso dispor é escutar. Ouvir. Estar presente.
Nos últimos meses, por incontáveis vezes me peguei com um impulso de tentar roubar pra mim a dor, o desolamento, o sofrimento, a angústia estampada nos olhos, no semblante, nas expressões do rosto de uma das pessoas mais alegres que eu já conheci: Mariana. O meu amor, a minha namorada, esposa, colega de trabalho, parceira de aventuras e de viagens. Mas não há como roubar, pegar, dividir, ou estancar a dor, o sofrimento, o abismo.
A dor não pode ser dividida. O sofrimento é único. O abismo é intransferível. A angústia é individual.
Como atores assistentes desse palco, também sofremos, e muito. Mas é uma dor que tem que ser vivida contida, calada. O sofrimento e a dor dos outros vêm em primeiro lugar. E já basta o que têm que enfrentar…
O que está ao meu alcance, além da presença e da escuta, é a memória e as lembranças.
É ai que entram as flores.
Um dia precisei ir para Conquista meio que de última hora. Não era necessariamente uma surpresa, mas era uma viagem não planejada. Precisava chegar na rodoviária (a situação financeira naquela época nem era ruim, porque para ser ruim ia precisar melhorar um bocado) e ir direto para uma floricultura para comprar um arranjo de flores bem bonito para dar de presente pra Mari. Tinha que ser um bem bonito e bem grande (quanto maior o buquê, maior a cagada de quem entrega, como já dizia a sabedoria popular mineira).
Como eu não conhecia a cidade direito, pedi ajuda ao mago dos bastidores, Márcio. A tarefa foi prontamente aceita em parte, desconfio eu, pela curiosidade de saber o que havia acontecido para merecer um arranjo de flores e uma visita não agendada, mas isso já é especulação minha.
O que sei ao certo é que fomos para uma floricultura local curiosa. A variedade de flores não era tão grande quanto eu esperava. Os arranjos não eram bem como eu estava imaginando. E o clima não era aquele clima agradável de floricultura decorativa.
Perguntei se não havia um arranjo de rosas vermelhas, rosas, e brancas para dar de presente. A vendedora me olhou de uma forma típica: não devia estar compreendendo o meu sotaque, pensei.
Repeti a pergunta, tentando falar o mais claramente possível, devagar, sem recursos linguísticos mineiros algum. Ela me olhou estranho novamente e me perguntou: “não é uma escolha muito diferente não?”.
Como pode arranjo de rosas ser uma escolha diferente? Será que no planalto bahiano as pessoas optavam por outro tipo de flores para as pessoas que amavam?
Devolvi o olhar estranho.
Ganhei outro mais curioso ainda.
E aí compreendi o mistério: Marcio tinha me levado para uma floricultura de velório.
Genial.
Não sei se foi de propósito ou se foi a primeira que lhe passou pela memória.
Mas era uma floricultura especializada em outro tipo de situação, e a minha não passava perto de um velório…
Essa é uma história que eu gosto sempre de contar.
E tem me ajudado a lembrar do Marcio de uma forma que me traga alegria, ofuscando a dor.
A dor é instransferível. O sofrimento é único. A presença e a escuta ajudam.
A memória de boas histórias podem servir para dar uma leveza momentânea.
Os palcos da vida nem sempre nos faz rir. Muitas vezes nos testam ao limite.
Que as flores nos ajudem.
Tenho a sensação que essas últimas são de uma dimensão diferente. Quando a perda acontece no palco principal das nossas vidas, onde somos os principais atores e diretores, o processo e o resultado são claramente nossos. Um passo em falso, e tudo pode piorar. Decisões acertadas, e as coisas caminham numa direção menos dolorida.
Mas quando estamos nos bastidores ou atuamos como coadjuvantes, nossa capacidade de impactar o outro diminui drasticamente.
A dor é instransferível. O sofrimento é único.
Ter de lidar com a dor e sofrimento de quem mais amamos na vida é, também, dolorido. Nos bastidores do teatro da vida, podemos dar suporte e oferecer o que esteja ao nosso alcance. Mas não podemos simplesmente pegar a dor e o sofrimento, dividir em fatias, e distribuir.
Não podemos entrar no coração de quem amamos e roubar nem a dor, nem o sofrimento, nem pegar para nós o abismo que se abre abaixo dos seus pés para cair no seu lugar.
A dor é única. O sofrimento é intransferível. E o abismo da perda não pode ser dividido.
Mas podem ser compartilhados.
Nos bastidores ou como coadjuvantes, talvez a única ferramenta ao nosso dispor é escutar. Ouvir. Estar presente.
Nos últimos meses, por incontáveis vezes me peguei com um impulso de tentar roubar pra mim a dor, o desolamento, o sofrimento, a angústia estampada nos olhos, no semblante, nas expressões do rosto de uma das pessoas mais alegres que eu já conheci: Mariana. O meu amor, a minha namorada, esposa, colega de trabalho, parceira de aventuras e de viagens. Mas não há como roubar, pegar, dividir, ou estancar a dor, o sofrimento, o abismo.
A dor não pode ser dividida. O sofrimento é único. O abismo é intransferível. A angústia é individual.
Como atores assistentes desse palco, também sofremos, e muito. Mas é uma dor que tem que ser vivida contida, calada. O sofrimento e a dor dos outros vêm em primeiro lugar. E já basta o que têm que enfrentar…
O que está ao meu alcance, além da presença e da escuta, é a memória e as lembranças.
É ai que entram as flores.
Um dia precisei ir para Conquista meio que de última hora. Não era necessariamente uma surpresa, mas era uma viagem não planejada. Precisava chegar na rodoviária (a situação financeira naquela época nem era ruim, porque para ser ruim ia precisar melhorar um bocado) e ir direto para uma floricultura para comprar um arranjo de flores bem bonito para dar de presente pra Mari. Tinha que ser um bem bonito e bem grande (quanto maior o buquê, maior a cagada de quem entrega, como já dizia a sabedoria popular mineira).
Como eu não conhecia a cidade direito, pedi ajuda ao mago dos bastidores, Márcio. A tarefa foi prontamente aceita em parte, desconfio eu, pela curiosidade de saber o que havia acontecido para merecer um arranjo de flores e uma visita não agendada, mas isso já é especulação minha.
O que sei ao certo é que fomos para uma floricultura local curiosa. A variedade de flores não era tão grande quanto eu esperava. Os arranjos não eram bem como eu estava imaginando. E o clima não era aquele clima agradável de floricultura decorativa.
Perguntei se não havia um arranjo de rosas vermelhas, rosas, e brancas para dar de presente. A vendedora me olhou de uma forma típica: não devia estar compreendendo o meu sotaque, pensei.
Repeti a pergunta, tentando falar o mais claramente possível, devagar, sem recursos linguísticos mineiros algum. Ela me olhou estranho novamente e me perguntou: “não é uma escolha muito diferente não?”.
Como pode arranjo de rosas ser uma escolha diferente? Será que no planalto bahiano as pessoas optavam por outro tipo de flores para as pessoas que amavam?
Devolvi o olhar estranho.
Ganhei outro mais curioso ainda.
E aí compreendi o mistério: Marcio tinha me levado para uma floricultura de velório.
Genial.
Não sei se foi de propósito ou se foi a primeira que lhe passou pela memória.
Mas era uma floricultura especializada em outro tipo de situação, e a minha não passava perto de um velório…
Essa é uma história que eu gosto sempre de contar.
E tem me ajudado a lembrar do Marcio de uma forma que me traga alegria, ofuscando a dor.
A dor é instransferível. O sofrimento é único. A presença e a escuta ajudam.
A memória de boas histórias podem servir para dar uma leveza momentânea.
Os palcos da vida nem sempre nos faz rir. Muitas vezes nos testam ao limite.
Que as flores nos ajudem.
E Nasce Um Pai...
E Nasce um Pai…
Juli e eu ficamos grávidas juntas. Ela um pouco antes. Ficou linda grávida, um barrigão daqueles bem grandes e redondos! Eu ficava admirando já que quase não fiz barriga na gestação das meninas. Chegávamos na casa deles, lá vinha Juli atender o portão, toda realizada e sorridente, vestida de jaleco…e o barrigão na frente! Apenas Ceci era nascida, ainda não tinha feito dois anos mas já andava e tagarelava. Tive a sorte de estar por aqui quando Jorginho nasceu. Fomos todos acompanhar no Hospital São Geraldo. Juli passou de maca para a sala da cesaria. Marcio entrou junto. Ficou com Juli durante todo o tempo. Aguardávamos ansiosos a saída de alguém da sala de cirurgia para dar notícias. E o tempo passa…e nada de notícia…e a ansiedade aumentando. De repente aparece Marcio com Jorginho nos braços, recém-nascido, para apresentar para nós. Ele segurava Jorginho com todo zelo e proteção que se podia esperar de um pai pegando o seu filho nos braços pela primeira vez. Mal olhava para nós. Estava claramente mergulhado em um universo que não era o nosso. Estava inundado com o milagre que acabara de acontecer na sua vida. Lembro de olhar Jorginho, o rostinho perfeito e falei: “Como parece com você, Cinho! E a sua cara!” E era mesmo, como o tempo comprovaria. Ele logo seguiu para o quarto de maternidade para entregar Jorginho para os braços da recém mamãe. Os dias seguintes no hospital foram de puro movimento de amigos e da família de Juli. Ainda nas primeiras semanas, lembro de admirar a força de Juli que logo retornou ao trabalho. Cinho ficava encarregado de dar o leite materno para Jorginho. A mamadeira ainda não podia. Ninguém queria que ele desmamasse antes da hora. Devo ter sugerido a terrível colherzinha que usávamos para dar o leite para Ceci. Mas Cinho teve uma ideia muito melhor. Usou uma seringa. Como eu fiquei admirada e pensando que gostaria de ter tido essa ideia ou sugestão na época de Ceci.
Isso foi em dezembro. Alguns meses depois, em abril, nascia Bea nos Estados Unidos. Apenas em setembro pude vir ao Brasil e trazê-la para que todos pudessem conhece-la. Lembro bem que me marcou a cena de Marcio conhecendo Bea. Estava no quarto de casal da casa de nossos pais, e Bea na cama. Talvez estivesse preparando para trocar a fralda dela. Cinho chegou, entrou no quarto. Antes mesmo que me cumprimentasse ele pegou Bea no colo, levantou, olhou bem para ela e a segurou. Ele ansiava conhecê-la.
O nascimento de Mathias não consegui acompanhar…Na data estávamos em Conquista, porém no dia que Juli seguiu para ter Mathias, estávamos todos no Aeroporto a caminho de Morro de São Paulo. Eu, Hudson, as meninas, meu pai e minha mãe. Todos vibraram com a notícia! Minha mãe recebeu a ligação de Cinho avisando que Mathias estava para nascer. Ele muito cuidadoso e atencioso, queria ter um edredom novo para quando chegassem em casa retornando do hospital com Mathias. E assim seu pedido foi concretizado. Uns dias depois retornei da viagem. Marquei um dia para visitá-los. Era um fim de tarde e Juli preparava para dar o banho em Mathias. Marcio logo me pediu para assumir o banho, todo orgulhoso e desejando que eu participasse do momento, me entregou Mathias no colo para o primeiro banho com a tia Mari.
Juli e eu ficamos grávidas juntas. Ela um pouco antes. Ficou linda grávida, um barrigão daqueles bem grandes e redondos! Eu ficava admirando já que quase não fiz barriga na gestação das meninas. Chegávamos na casa deles, lá vinha Juli atender o portão, toda realizada e sorridente, vestida de jaleco…e o barrigão na frente! Apenas Ceci era nascida, ainda não tinha feito dois anos mas já andava e tagarelava. Tive a sorte de estar por aqui quando Jorginho nasceu. Fomos todos acompanhar no Hospital São Geraldo. Juli passou de maca para a sala da cesaria. Marcio entrou junto. Ficou com Juli durante todo o tempo. Aguardávamos ansiosos a saída de alguém da sala de cirurgia para dar notícias. E o tempo passa…e nada de notícia…e a ansiedade aumentando. De repente aparece Marcio com Jorginho nos braços, recém-nascido, para apresentar para nós. Ele segurava Jorginho com todo zelo e proteção que se podia esperar de um pai pegando o seu filho nos braços pela primeira vez. Mal olhava para nós. Estava claramente mergulhado em um universo que não era o nosso. Estava inundado com o milagre que acabara de acontecer na sua vida. Lembro de olhar Jorginho, o rostinho perfeito e falei: “Como parece com você, Cinho! E a sua cara!” E era mesmo, como o tempo comprovaria. Ele logo seguiu para o quarto de maternidade para entregar Jorginho para os braços da recém mamãe. Os dias seguintes no hospital foram de puro movimento de amigos e da família de Juli. Ainda nas primeiras semanas, lembro de admirar a força de Juli que logo retornou ao trabalho. Cinho ficava encarregado de dar o leite materno para Jorginho. A mamadeira ainda não podia. Ninguém queria que ele desmamasse antes da hora. Devo ter sugerido a terrível colherzinha que usávamos para dar o leite para Ceci. Mas Cinho teve uma ideia muito melhor. Usou uma seringa. Como eu fiquei admirada e pensando que gostaria de ter tido essa ideia ou sugestão na época de Ceci.
Isso foi em dezembro. Alguns meses depois, em abril, nascia Bea nos Estados Unidos. Apenas em setembro pude vir ao Brasil e trazê-la para que todos pudessem conhece-la. Lembro bem que me marcou a cena de Marcio conhecendo Bea. Estava no quarto de casal da casa de nossos pais, e Bea na cama. Talvez estivesse preparando para trocar a fralda dela. Cinho chegou, entrou no quarto. Antes mesmo que me cumprimentasse ele pegou Bea no colo, levantou, olhou bem para ela e a segurou. Ele ansiava conhecê-la.
O nascimento de Mathias não consegui acompanhar…Na data estávamos em Conquista, porém no dia que Juli seguiu para ter Mathias, estávamos todos no Aeroporto a caminho de Morro de São Paulo. Eu, Hudson, as meninas, meu pai e minha mãe. Todos vibraram com a notícia! Minha mãe recebeu a ligação de Cinho avisando que Mathias estava para nascer. Ele muito cuidadoso e atencioso, queria ter um edredom novo para quando chegassem em casa retornando do hospital com Mathias. E assim seu pedido foi concretizado. Uns dias depois retornei da viagem. Marquei um dia para visitá-los. Era um fim de tarde e Juli preparava para dar o banho em Mathias. Marcio logo me pediu para assumir o banho, todo orgulhoso e desejando que eu participasse do momento, me entregou Mathias no colo para o primeiro banho com a tia Mari.