In Memorium
Histórias de Diamantino

Partilhe aquele episódio especial que recorda da vida de Diamantino.

Texto publicado por Paulo Alcobia em Imagens e Notícias de Ferreira do Zêzere a 25jan2022

Partilhado por Paulo Marques em 27 de janeiro de 2022
Por ser ilustrativo da época e porque também nós habitámos uma casa de porteira, onde dei os meus primeiros passos Rua Dom Luís de Noronha, julgo importante ficar aqui este documento. Créditos no fim.
Os "Patos Bravos" e os "Ouriços Cacheiros"
(parte 2)
Dissertámos, ontem, sobre a importância dos Tomarenses na expansão urbana da capital durante o século XX devendo-se-lhe artérias, largos ou praças, como a elegante Praça de Londres, cuja imagem aqui partilhamos, desenhada em 1938 pelo arquiteto e urbanista João Faria da Costa e construída quase exclusivamente por "Patos Bravos" com destaque, nesta praça, para a ação do "Bando dos Narcisos" e do "Bando dos Vicentes", este criado pelo meu avó materno, que ali construiu prédios e fundou, com 3 outros sócios, todos tomarenses, em 1946, a Pastelaria Mexicana.
Já poucos se recordam da utilização deste substantivo coletivo mas originalmente, alguns destes bandos, adotavam o apelido do seu fundador, outros o da aldeia de onde eram originários os seus componentes.
Curiosamente, bando é também um dos substantivos coletivos utilizados para identificar um grupo de Patos Bravos.
Menos consensual é a origem epíteto "Pato Bravo".
Ontem, o Dr. Nuno Ribeiro, referiu aqui que "a técnica de construção de gaiola, era a nova tecnologia anti-sísmica, os pedreiros pareciam patos no interior de toda essa estrutura...". Outras versões, porém, apresentam origens diferentes.
Dos construtores da geração do meu avô, que entrevistei, uns disseram que tal como os Patos Bravos "que voam num alinhamento triangular e onde pousam os primeiros pousam todos os demais" também onde "aqueles três construtores pioneiros começavam a construir, os demais seguiam-nos".
É bem verdade que entre os "bandos" existiam laços de companheirismo e amizade e que, não raras vezes, se emprestavam materiais, ferramentas, mão-de-obra, dinheiro, (...), o que fosse preciso. Havia apenas algo que os Patos Bravos não toleravam, o incumprimento da palavra dada.
Uma outra teoria que recolhi, refere que por altura da construção dos prédios das artérias paralelas e transversais da Avenida da Republica, em dias de muita chuva, os Tomarenses colocavam umas capas improvisadas e nem a intempérie ou a lama os impediam de avançar com a obra, "Pareciam uns patos bravos a saltar por cima da lama com as suas capas, quando todos os demais se resguardavam da chuva".
A este respeito referia a minha avó que "Só havia uma alcunha que todos abominavam, a de gaioleiros", o termo gaioleiro, era depreciativo quer por desprestigiar as suas obras, quer porque o termo tinha uma conotação negativa associada à má construção a qual, no primeiro quartel do século XX, esteve mesmo na origem de algumas derrocadas que causaram vários feridos e mortos, e relativamente às quais, os Tomarenses tinham grande aversão.
Resta acrescentar que durante as primeiras décadas, estes construtores, independentemente da idade, regra geral, vinham trabalhar para Lisboa, deixando mulher e filhos, na terra.
Alguns houve que viveram uma vida inteira entre viagens, sem se radicarem em definitivo na capital.
Os Ouriços Cacheiros
O primeiro êxodo expressivo dos Ferreirenses para Lisboa teve início na segunda metade do século XIX. A sua predominância no comércio de Lisboa foi tal que no primeiro quartel do século XX eram já perto de meia centena os estabelecimentos da baixa Lisboeta adquiridos ou fundados por compatriotas nossos e de entre estes pontificavam os Grandes Armazéns do Chiado, de que era sócio António Jacinto Cotrim da Cruz, da freguesia do Beco (também sócio dos Grandes Armazéns Alcobia) e os Armazéns Eduardo Martins, de Francisco dos Santos, da freguesia de Águas Belas.
Já então havia, também, muitas raparigas da nossa região a servir em Lisboa. Por esta altura não é conhecida qualquer alcunha dada aos nossos patrícios.
No segundo quartel do século XX, no auge da construção das avenidas novas, surge a necessidade de contratar porteiras e é então que algumas das criadas de servir de origem Ferreirense radicadas em Lisboa, mudam de atividade. As condições eram atrativas e incluíam a utilização de casa própria (gratuita ou com renda acessível) e um ordenado com funções de limpeza mas com um horário mais leve.
Não tardou que do concelho de Ferreira começassem a vir jovens casais, elas para servirem como porteiras e eles (porque nessa altura não era bem visto as mulheres viverem sozinhas) tinham, normalmente emprego assegurado na Carris ou na PSP.
A ação do Professor Monteiro e do Chefe Ideias, ambos das Areias, foi determinante. O primeiro porque tinha um genro num lugar de chefia na Carris, o segundo por ter sido figura influente na Polícia Lisboeta, onde fundou da 1ª Divisão de Trânsito. Ambos terão sido responsáveis pela colocação de centenas de compatriotas nossos nestas duas instituições.
Mais tarde, também na Central de Cervejas houve um importante contingente de patrícios nossos.
Por esta altura, muitos dos Tomarenses a que aludimos nesta publicação. continuavam a trabalhar temporadas em Lisboa e a visitar a família pontualmente o que diferia da vasta comunidade Ferreirense cuja emigração se processou em contexto familiar.
Muitas vezes, ainda os Tomarenses davam os acabamentos finais nos prédios, já a porteira e a sua família se instalavam e assim, por comparação, quais Ouriços Cacheiros, que deambulam pelos nossos campos com as crias atrás, os Ferreirenses, ao viajaram juntos para Lisboa, ganharam este cognome, hoje praticamente desconhecido.
Era também assim que os Tomarenses tratavam os Ferreirenses que apareciam nos Bailes da Casa do Concelho de Tomar e foi num desses bailes, que a minha mãe "Pata Brava", conheceu o meu pai "Ouriço Cacheiro", que faria hoje 96 anos se fosse vivo, e a quem dedico esta crónica.
Pesquisa e texto: Paulo Alcobia Neves
Imagem: Praça de Londres (Arquivo Municipal de Lisboa)
Partilhado por Casimiro José Graça em 25 de janeiro de 2021
Eu Casimiro Graça, lembra-me de em garoto ir há Taberna do ti-Diamantino cortar o cabelo. Ele sentava-me na cadeira e iniciava o corte mas ao chegar outro cliente para beber ou ir á mercearia deixava-me e lá vai atender, quando chegava já estava a dormir na cadeira, então Ele dava-me um calduço no pescoço para eu acordar Tenho muitas boas recordações do ti-Diamantino.

Debaixo dos carvalhos

Partilhado por Paulo Marques em 11 de setembro de 2020
No local do costume junto a um dos muitos carvalhos do quintal.

Sócio do ACP

Partilhado por Paulo Marques em 17 de maio de 2020
O Diamantino não era de se associar a muitos clubes, porém desde sempre que me lembro de ele ser sócio do Automóvel Club de Portugal.
O que me deixava muito feliz, era a altura em que chegava uma nova revista do ACP. Lá devorava eu todas as novidades sobre os automóveis e sobre os rallyes. A popularidade dos rallyes na altura era completamente diferente da atual.

Com a irmã Isaura

Partilhado por Paulo Marques em 15 de maio de 2020
Em amena cavaqueira ao lado da irmã, a quem presto também a minha homenagem.
Para além da ajuda que sempre nos dava sobretudo nas tarefas das nozes ou da azeitona era um privilégio poder comer os fantásticos queijos que ela fazia. Que saudades!
Agora me lembro que há mais de 40 anos, por vezes também lhe levava as cabras para pastar, já que todos os outros meus amigos também levavam as suas. Íamos para a "videira" ou algum outro local por esses lados e aí jogávamos à bola, até que alguém se lembrava das cabras... E lá tínhamos que as ir procurar, às vezes já a refastelarem-se nas hortas dos vizinhos. Se fossemos apanhados valia-nos um belo raspanete.

Evidência da existência da PIDE

Partilhado por Paulo Marques em 12 de maio de 2020
Os mais novos quando ouvem falar da PIDE podem pensar que era uma organização meio secreta dentro do estado novo, mas afinal não era secreta. Era o acrónimo de Polícia Internacional e de Defesa do Estado e era quem controlava as entradas e saídas do país. Curiosamente não me chegou aos ouvidos qualquer história que levasse o Diamantino a cruzar a fronteira, pelo que presumo que tivesse ido, só para comprar caramelos ;)

Relíquia de 1957

Partilhado por Paulo Marques em 9 de maio de 2020
Carta de velocípedes desde, presumo que, 1957

O poder da transformação

Partilhado por Paulo Marques em 3 de maio de 2020
Segundo me contou, enquanto tinha a taberna, houve uma altura em que comprou vinho nuns armazéns de vinho em Tomar.
Num determinado lote de vinho daquele armazenista, o vinho tinha algumas características particulares e reparou que juntando água o vinho ficava mais do agrado dos clientes e quanto mais água  juntava mais contentes ficavam os clientes.
Eu estou convencido que este milagre não é exclusivo de alguns e que ocorre em muitas tabernas espalhadas por este mundo fora, mesmo que não sejam devotos.



Caligrafia

Partilhado por Paulo Marques em 3 de maio de 2020
Já só fez a quarta classe em adulto para poder tirar a carta. mas era mesmo assim, numa pequena aldeia do interior há quase 100 anos, já não era nada mau.
Ainda assim, desde novo que aprimorou a caligrafia. Contou-me que um empresário de pirotecnia, veio do norte de propósito entregar-lhe os foguetes encomendados , que ele vendia na taberna/loja, com o objetivo de conhecer quem escrevia tão bem, já que as suas encomendas eram lidas e apreciadas pela excelente caligrafia. Isto eu não herdei, ao invés sempre achei que tinha jeito mas era para médico.

Amizades

Partilhado por Paulo Marques em 2 de maio de 2020
Uma grande e duradoura amizade entre os meus pais e esta família, Amaral. A quem presto aqui a minha homenagem já que ambos os "pais" faleceram. Sempre me trataram muito bem. Com filhos da minha idade, saber que nos íamos encontrar era sempre uma enorme excitação. Excelentes recordações de convívios e brincadeiras.

50 anos

Partilhado por Paulo Marques em 25 de abril de 2020
Já tinha sido o 25 de Abril no ano anterior e ao fazer 50 anos, provavelmente motivado pelos colegas de profissão decide também comprar um Mercedes. Mas, tinha que ser adaptado e ter caixa automática pelo que só havia a gasolina. Recordo-me dele me dizer, quando mudou o motor para gasóleo, que antes disso já era conhecido de todo o pessoal das bombas deste Tomar a Lisboa.
Meses depois dá-se um grande roubo de armas e uma das recordações que tenho é a de, ao regressar a casa depois de um passeio, uma fila infindável na auto-estrada que na altura só ia de Vila Franca de Xira a Lisboa e a revista meticulosa a todas as viaturas à procura das armas roubadas. Outros tempos, em que o roubo de armas se sabia no próprio dia.

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